Quanto ganha um ilustrador em Portugal? Duas artistas lançaram a pergunta — e querem respostas

As tabelas salariais para ilustradores não são adequadas à realidade portuguesa. Para ajudar estes artistas, Joana Antunes e Joana Molho lançaram um questionário que procura acabar com o problema. Afinal, quanto recebe um ilustrador em Portugal?

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Joana Antunes e Joana Molho conheceram o trabalho uma da outra através das redes sociais. O interesse principal eram os desenhos, mas, pelo meio, pairava a dúvida: quanto é que um ilustrador freelancer deve cobrar por um trabalho?

Foi desta pergunta que nasceu a ideia de criar um questionário que abordasse um tema (ainda) tabu: os salários. Afinal, quais são as diferenças salariais entre estes artistas? “A variação de valores é muito grande”, começa por explicar ao P3 a ilustradora Joana Molho, sem adiantar mais detalhes.

Para a jovem de 26 anos, que trabalha desde 2017 como freelancer, ter uma tabela salarial para a profissão adequada à realidade portuguesa é uma necessidade urgente. “Existem estas tabelas e guias de valores, mas não para quem trabalha em Portugal. Estes dados acabam por dar uma ideia errada para colocar em prática aqui”, aponta. A ideia é reforçada por Joana Antunes, de 21 anos, que, apesar de trabalhar como designer gráfica numa empresa, também trabalha por conta própria.

Joana Antunes Joana Antunes
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Joana Antunes Joana Antunes

O questionário, que está disponível há uma semana, reuniu 34 respostas de pessoas entre os 20 e os 44 anos, que trabalham apenas como freelancers ou conjugam o trabalho em empresas de outras áreas criativas com projectos extra, mas as duas amigas pretendem chegar às 300. O inquérito está disponível até Agosto e podem participar todos os artistas com mais de 18 anos que já tenham realizado trabalhos remunerados na área da ilustração. Não é necessário fornecer dados pessoais e as respostas são anónimas. Em Outubro, a tabela salarial que procura ajudar trabalhadores e clientes, deverá estar disponível no site de Joana Antunes.

“Muitas pessoas que trabalham como ilustradores freelancers não têm a opção de fazer isto a tempo inteiro, porque é muito difícil. É um nicho muito diferente, por exemplo, em relação ao design gráfico. E, nesse aspecto, eu acho que é muito importante sabermos quanto é que vale o mercado de ilustração em Portugal para conseguirmos fazer preços justos”, reforça a designer.

Até ao momento, os resultados permitiram identificar grandes diferenças salariais entre quem está a começar por conta própria, que pode receber até 300 euros por mês, e quem já está estabelecido há algum tempo, cujo rendimento pode atingir os 1500 euros, explicam. As diferenças de rendimento também existem entre estas duas amigas: Joana Molho recebe perto do salário mínimo nacional, que neste momento são 705 euros. O vencimento de Joana Antunes, que junta o salário pago pela empresa e outros trabalhos, ronda os 1300 euros.

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O objectivo do questionário é criar uma tabela salarial para os ilustradores portugueses Joana Antunes

Perante os resultados, as artistas percebem que não são as únicas na mesma situação. Além de estarem a ser feitos poucos contratos, “os ilustradores trabalham à base da confiança”, salienta Joana Antunes, para acrescentar que os clientes tendem a abusar da sensibilidade dos artistas e pedem preços mais baixos. “Depois, há muita variedade de valores e as pessoas que já têm carreiras estabelecidas noutras áreas colocam preços mais altos, enquanto alguém que tenha terminado a universidade há pouco tempo estabelece preços mais baixos”, acrescenta.

As duas amigas esperam que o projecto sirva para acabar com o estereótipo de “artista esfomeado” — aquele que não recebe o suficiente, que nem sequer recebe ou nem consegue vender os trabalhos que executa. “Queremos mostrar que realmente é possível tirar partido do desenho e que não é por nos identificarmos como artistas que não vamos ter trabalho ou não vamos ter, no caso dos freelancers, um rendimento digno para poder viver só disto”, revela Joana Molho.

As ilustradoras esperam também acabar (ou pelo menos atenuar) as dúvidas em relação aos rendimentos dos ilustradores. E acrescentam: querem uma abordagem mais aberta sobre o rendimento destes artistas em Portugal.

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