ONU e Reino Unido condenam pena de morte imposta a soldados estrangeiros

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, ficou “horrorizado” com a sentença imposta pelos separatistas pró-russos a dois soldados britânicos e a um marroquino. Em Mariupol, cresce o risco de uma epidemia de cólera.

Foto
Dois soldados britânicos e um marroquino, com idades compreendidas entre os 28 e os 48 anos, foram condenados à morte EPA/STRINGER

O Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos qualificou como “crime de guerra” a condenação à pena de morte imposta a dois soldados britânicos e a um marroquino. Os três foram acusados de terrorismo por participarem na guerra a favor do lado ucraniano pela autoproclamada e pró-russa República Popular de Donestk.

"Desde 2015, que temos vindo a observar que o chamado sistema judicial dessas autoproclamadas repúblicas não cumpre as garantias essenciais de um julgamento justo. Tais julgamentos contra prisioneiros de guerra constituem, por si, um crime de guerra”, disse Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado da ONU, durante uma conferência de imprensa em Genebra.

Em Londres, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, manifestou-se “horrorizado” com as sentenças de morte. “O primeiro-ministro ficou horrorizado com as sentenças dadas a esses homens”, disse esta sexta-feira um porta-voz de Downing Street. A fonte oficial salientou que o líder conservador “está a acompanhar o caso de perto e que pediu aos membros do seu Governo que façam tudo o que estiver ao seu alcance para tentar reuni-los com as suas famílias o mais rapidamente possível”.

"Condenamos completamente a farsa de condenar esses homens à morte. Não há absolutamente nenhuma justificação para essa violação da protecção a que eles têm direito”, acrescentou o porta-voz. Por sua vez, também as famílias dos dois soldados britânicos capturados, de 28 e 48 anos, se manifestaram e pediram “ajuda imediata para salvar as suas vidas”.

Segundo informações da estação de televisão BBC, as famílias de Aiden Aslin e Shaun Pinner destacaram a importância de conseguirem ajuda para que ambos tenham acesso a cuidados médicos e assistência jurídica. O pedido vem depois de os governos do Reino Unido e da Ucrânia garantirem que a condenação é uma violação da Convenção de Genebra.

A condenação dos três combatentes estrangeiros surge numa altura em que um dos responsáveis pelo serviço de informações militares da Ucrânia, Vadim Skibitski, confirmou que o exército esgotou as suas reservas de munições e depende exclusivamente da ajuda militar internacional para se defender da invasão russa.

A Ucrânia dispara, em média, entre cinco a seis mil mísseis por dia, tendo em conta que, antes do início do conflito, a Rússia tinha uma vantagem sobre a Ucrânia de “entre 10 a 15 mísseis para um”. “Ainda assim, os nossos aliados internacionais conseguiram dar-nos 10% daquilo que Moscovo tem, aproximando-nos e tornando a resistência possível”, acrescentou Skibitski.

Para além da falta de armamento, a falta de acesso a recursos primários coloca a vida de cidadãos ucranianos em risco. O Ministério da Defesa do Reino Unido revelou que a Rússia está com dificuldade em prestar serviços públicos aos habitantes das áreas ocupadas. Na grande maioria dos casos não há acesso a água potável e a serviços de telefone e Internet.

A situação mais crítica acontece em Mariupol, no Sul da Ucrânia, uma vez que a cidade corre o risco de enfrentar uma epidemia de cólera. “Foram reportados casos isolados de cólera desde Maio”, pode ler-se no relatório. Na frente de combate, pouco se alterou em Severodonetsk: as tropas russas continuam a ocupar grande parte da cidade.

Do lado russo, Vladimir Putin comparou a sua política à do czar Pedro, o Grande, quando este combateu a Suécia, invadindo uma parte do seu território, bem como a Finlândia, uma parte da Estónia e da Letónia. “Pedro, o Grande travou a Grande Guerra do Norte durante 21 anos. Temos a impressão de que, ao combater a Suécia, ele estava a apoderar-se de alguma coisa. Não estava a apoderar-se de nada, estava a recuperar”, afirmou o Presidente russo num encontro com jovens empresários em Moscovo.”

Referindo-se à ofensiva russa na Ucrânia e estabelecendo uma comparação directa com Pedro, o Grande, Putin acrescentou: “Aparentemente, cabe-nos também recuperar e desenvolver. Sim, houve épocas na história do nosso país em que fomos obrigados a recuar, mas apenas para retomar forças e seguir em frente”, concluiu.​

Sugerir correcção
Ler 1 comentários