E as irmãs Lisbon foram infelizes para sempre
A audácia de Mário Coelho permitiu-lhe criar uma obra estimulante e sem dúvida envolvente, na qual contorna com inteligência a maioria das armadilhas conceituais criadas pela sua própria imaginação. Estas, contudo, são muitas. E nem sempre o autor consegue evitar uma certa leveza.
Mal começa, sabe-se logo e sem aviso prévio, já há uma rapariga morta. Suicidou-se. Tinha 13 anos. Não é propriamente um início feliz. Como feliz não é também o desenvolvimento da história das irmãs sobreviventes a Cecília depois de os pais as afastarem da escola. Encerradas no quarto, como quem cumpre uma pena ou procede a uma expiação – a diferença não é grande –, resta-lhes recordar, imaginar, especular, alucinar enquanto sonham com uma vida em que possam ser elas, em que possam ser mais do que uma parte da religiosa e conservadora família Lisbon. Está à vista que a possibilidade de um final feliz é remota – mesmo quando David Bowie canta Heroes para um Lux envolto em luz e fumo psicadélicos.
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