O diário de Anne Frank abre temporada 2022/2023 do Teatro da Trindade
O director artístico da casa encenará um texto que há 20 anos guardava na gaveta: A Peça para Dois Actores, de Tennessee Williams.
Uma adaptação de O Diário de Anne Frank abrirá a temporada 2022/2023 do Teatro da Trindade, em Lisboa, que contará também com a encenação do texto vencedor do Prémio Miguel Rovisco e estreará uma peça com noiserv ao vivo.
A programação do Teatro da Trindade/Fundação Inatel para a próxima temporada, que se inicia a 8 de Setembro com O Diário de Anne Frank na versão de Frances Goodrich e Albert Hackett, foi apresentada esta terça-feira em conferência de imprensa por Diogo Infante, director artístico do Trindade, e por Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel.
O espectáculo baseado no diário da jovem judia que viveu durante dois anos escondida com a família num sótão, fugindo à perseguição nazi, e que acabou por morrer num campo de concentração aos 15 anos, estará em cena até 13 de Novembro.
Segundo Diogo Infante, para este espectáculo, com encenação de Marco Medeiros, foram abertas audições a nível nacional para encontrar dois jovens actores que interpretassem os papéis de Anne Frank e Peter van Pels. “Superando todas as expectativas”, concorreram mais de 600 candidatos, disse o director artístico. Beatriz Frazão foi a actriz escolhida para encarnar a protagonista.
O segundo espectáculo da temporada, com estreia marcada para 15 de Setembro, é Jesus, o filho, com texto e encenação de Elmano Sancho, que retrata o transtorno hikikomori, o isolamento, a exclusão social e a morte involuntária. A peça é o terceiro tomo da trilogia A Sagrada Família, sucedendo a José, o Pai e Maria, a Mãe.
Outra das apostas do Trindade para este 2022/2023 é A Peça para Dois Actores, de Tennessee Williams, uma produção própria, com estreia a 27 de Abril. Diogo Infante confessou que “há 20 anos que [guarda] esta peça na gaveta” e que sempre imaginou que a faria no Trindade, embora estivesse “longe de imaginar que hoje estaria aqui”.
Estreada em Londres, em 1967, foi considerada pelo próprio Tennessee Williams como a sua peça mais bonita desde Um Eléctrico Chamado Desejo, contou o director do Trindade, lembrando que esse texto parcialmente autobiográfico aborda os temas “assustadoramente próximos” da saúde mental e do confinamento forçado, “assustadoramente próximos”.
Na versão a estrear pelo Trindade, a peça será protagonizada por Luísa Cruz e Miguel Guilherme.
Outra novidade desta temporada é o espectáculo Nuvem, que porá em cena o texto vencedor da edição deste ano do Prémio Miguel Rovisco – Novos Textos Teatrais, da autoria de Carlos Manuel Rodrigues, uma espécie de policial que reflecte sobre a essência do artista, explicou Diogo Infante.
Segundo Daniel Gorjão, encenador do espectáculo, que estará em palco de 8 de Dezembro a 29 de Janeiro, este texto de teatro lê-se como um romance. O maior desafio, disse, foi conseguir contar a história através de um elenco negro, uma vez que se passa numa ilha remota perto da África do Sul.
Noite de Reis, comédia de William Shakespeare com encenação de Ricardo Neves-Neves, estreia-se a 26 de Janeiro, e vai “andar atrás” do termo drag", fixado pelo dramaturgo inglês como acrónimo para “dressed as girl” como explicou o encenador. “Queremos trabalhar a comédia, zona de enganos e equívocos, dos homens que se vestem de mulheres”, afirmou.
A seguir, Blasted, da malograda dramaturga britânica Sarah Kane (1971-1999), estreia-se a 9 de Março, em encenação de João Telmo.
A última peça da temporada, que estará em cartaz de 25 de Maio a 9 de Julho, intitula-se As leis fundamentais da estupidez humana, a partir da obra satírica Alegro ma non troppo, de Carlo Maria Cipolla, aqui encenada por João de Brito.
O encenador tomou conhecimento deste texto quando um amigo lhe ofereceu o livro de Cipolla e propôs então a sua adaptação a teatro. “É uma sátira à sociedade da altura, final dos anos 1980”, um “texto hilariante, mas que chafurda um bocadinho à volta daquilo que é o mundo”, afirmou.
Este espectáculo contará com música de noiserv, que vai tocar ao vivo, e também com desenho digital, de Vítor Ferreira, igualmente ao vivo, “porque o próprio livro é muito gráfico”, acrescentou o encenador.
Paralelamente à temporada de teatro, o Ciclo Mundos, fruto de uma parceria da Fundação Inatel com o Festival Músicas do Mundo de Sines, arranca a 27 de Setembro com uma actuação da banda norte-americana Vicki Kristina Barcelona, que transforma músicas de Tom Waits, apresentando-as com novos arranjos.
A 25 de Outubro apresentam-se Zakir Hussain & Niladri Kumar, para um concerto de música clássica indiana, com tablas e cítara.
A fechar o ciclo, a contrabaixista, cantora e compositora Sélène Saint-Aimé actuará com a sua formação em quinteto, num concerto que explora as tradições dos seus ancestrais africanos.
Diogo Infante anunciou ainda que o Teatro da Trindade criou a quinta-feira Dia do Estudante, em que os estudantes terão direito a bilhete com preço reduzido, extensível a um acompanhante.
Falando sobre os dois anos de pandemia, que impediram uma actividade regular, o director artístico do Trindade indicou que, apesar das dificuldades, o balanço é positivo e que foi possível equilibrar as contas.
“Acredito que agora estamos mais bem preparados para o que o futuro nos reserva. Os indicadores de 2022 são bastante positivos: conseguimos recuperar, se não ultrapassar, os números pré-pandemia, e 2023 acredito que será de crescimento”, disse.
Diogo Infante revelou ainda que o orçamento para esta temporada é de 400 mil euros, incluindo programação, produção e comunicação.
Segundo Francisco Madelino, 80% das receitas da Fundação Inatel provêm da hotelaria, sendo que, actualmente, a fundação está com “19% de reservas acima do período pré-pandemia”, o que permitirá “alavancar novos projectos”.