É possível reciclar uma escova de dentes velha?
Os leitores trouxeram-nos várias dúvidas sobre reciclagem e nós tentámos encontrar respostas. Caixas de madeira, brinquedos de plástico, envelopes... separar os resíduos não é tarefa óbvia.
Separar os resíduos não é uma tarefa óbvia. O PÚBLICO disponibilizou um jogo da reciclagem no Dia Mundial do Ambiente, celebrado a 5 de Junho, e, no fim desta proposta lúdica que se encontra na nossa edição online, perguntou aos leitores se tinham alguma dúvida específica sobre o tema. Chegaram à redacção várias questões sobre o destino que se deve dar a vários objectos inutilizados.
Por exemplo: o que fazer com as escovas de dentes velhinhas, cujas cerdas ficam curvas e começam a soltar-se do cabo plástico? Esta é a dúvida que nos foi trazida pelas leitoras Maria da Conceição Freire e Olímpia Sousa. Como a maioria destes objectos de higiene oral é feita de plástico, é natural pensarmos que devem ir para o ecoponto amarelo. Contudo, como não são embalagens, devem seguir para o lixo comum. Os ecopontos estão preparados para receber quase unicamente – explicaremos a excepção mais à frente – invólucros de papel, vidro, metal ou plástico que serviram para acondicionar um produto num ponto de venda.
“Há alguns projectos específicos de recolha de escovas de dentes que podem se consultados na aplicação WasteApp”, sugere Patrícia Carvalho, coordenadora do Pacto Português para os Plásticos (PPP), referindo-se a uma aplicação disponibilizada pela associação ambientalista Quercus. Uma marca deste tipo de utensílio de higiene oral promove a colecta de exemplares velhos para produzir pranchas de surf, por exemplo. A cada 15 quilos de plástico recolhidos, há a promessa de que uma nova prancha é doada à Associação Portuguesa de Surf Adaptado. Outro destino possível é a reutilização: as escovas de dentes podem ser usadas para a limpeza doméstica, permitindo esfregar cantos e juntas com maior facilidade.
Responsabilidade do produtor
Por que em Portugal praticamente só podemos colocar embalagens nos ecopontos? A explicação prende-se com o Princípio da Responsabilidade Alargada do Produtor, que “está em vigor em Portugal desde 1997, “quando a primeira entidade gestora de fluxos específicos de resíduos foi licenciada”, refere o site da Agência Portuguesa do Ambiente. Desde há 25 anos, quem produz embalagens, pneus, óleos minerais, equipamentos eléctricos e electrónicos, veículos, pilhas e acumuladores é responsabilizado pelo impacte ambiental da colocação destes produtos no mercado através do pagamento de um “ecovalor”. Esta prestação financeira, paga à Sociedade Ponto Verde e outras entidades, financia o Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens, arcando com os custos de triagem e recolha dos resíduos. Isto explica a razão pela qual podemos depositar no ecoponto amarelo a embalagem de plástico que acondiciona uma escova de dentes nova, mas não podemos dar à velha o mesmo destino. (Além disso, os plásticos não são todos iguais.)
Depois de testar o jogo online, a leitora Sónia Rigor pergunta-nos o que fazer, então, com as caixas de madeira que acondicionam os morangos nos supermercados. Estas caixas são embalagens, mas como não são feitas de papel, cartão, vidro, plástico ou metal – os fluxos de reciclagem mais comuns –, os ecopontos actuais não estão preparados para as receber.
“Nestes casos, o ideal será mesmo a reutilização das embalagens de madeira para guardar outras coisas em gavetas ou no frigorífico ou para a decoração”, sugere Susana Fonseca, membro da direcção da associação ambientalista Zero. Outra opção é juntar uma quantidade considerável de caixas ou outros objectos do mesmo material (móveis, por exemplo) e levá-los ao ecocentro da região. Mangueiras e cabos eléctricos poderão ser recebidos nestes ecocentros. No entanto, é preciso verificar sempre antes se os objectos que não fazem parte dos fluxos dos ecopontos podem ser ali recebidos, uma vez que as regras podem variam consoante a geografia.
Papel é única excepção
Os únicos resíduos depositados nos ecopontos que fogem à regra das embalagens são aqueles feitos de papel: jornais, revistas, livros, envelopes, cartas, apontamentos e cadernos. Todos estes artigos podem ir para o ecoponto azul, juntamente com as embalagens de cartão. Já o rolo de papel absorvente de cozinha e os guardanapos usados devem ir para o lixo comum (o que responde à dúvida do leitor Fernando Moreira). Contudo, os tubos de cartão presentes no centro dos rolos podem ser reciclados.
Os leitores Catarina Tavares, Jorge Rosa e Monika Gruner questionam o que fazer quando o envelope apresenta dois materiais – uma janela de celofane ou uma camada plástica almofadada, por exemplo. Tanto um como o outro podem ser colocados no ecoponto azul, uma vez que esta fileira passa por várias etapas de tratamento, para a remoção de impurezas como plásticos, argolas e agrafos. Ou seja: não é necessário remover clipes e outros acessórios antes de reciclá-los.
O leitor Pedro Reis pergunta ainda “se é verdade que não se deve colocar para reciclar objectos [de plástico] menores do que um cartão de crédito”. Patrícia Carvalho explica que “as embalagens de pequena dimensão podem ser colocadas no ecoponto amarelo”, mas ressalva que “os sistemas de triagem de resíduos, para os quais são encaminhadas as embalagens de plástico, têm crivos nos seus processos”. Estes coadores “servem para separar os contaminantes mais pequenos”, explica a engenheira ambiente responsável pelo PPP. Assim, as embalagens pequeninas podem não chegar às fases finais do processo de reciclagem.
O que fazer com os CD riscados?
As leitoras Helena Pereira, Manuela Bravo e Eduarda Neves indagam-se qual o destino que devem dar a CD riscados. Como estes objectos não são embalagens, devem ser depositados do contentor de lixo indiferenciado. A ambientalista Susana Fonseca recorda que muitas pessoas usam CD e DVD inutilizados para espantar pardais em hortas. “É uma forma de reutilizar, caso contrário estes objectos vão mesmo parar num aterro”, afirma. Destino semelhante têm as armações de óculos partidas e os brinquedos de plásticos inutilizados, dois objectos que suscitam dúvidas frequentes. Não são embalagens e, portanto, seguem para o lixo comum (embora “haja ópticas que tenham programa de recolha”, sublinha Patrícia Carvalho). Daí a importância de cada compra ser ponderada, para que cada objecto que trazemos para as nossas casas possa ter o maior tempo de vida útil possível.