Pedro Serra e Vanessa Rodrigues entrevistaram “20 activistas feministas para falar sobre o patriarcado”: foi este o mote do novo documentário do realizador, intitulado Patriarcado, Uma História Por Acabar, que aborda temas como “empoderamento feminino e desconstrução da masculinidade hegemónica” e já está disponível no Filmin Portugal. Vanessa Rodrigues, assistente de produção e realização, explica ao P3 que o filme nasceu a partir da “observação do dia-a-dia” e da análise “das injustiças” com as quais “somos confrontados em qualquer lado”.
“Vivemos numa sociedade patriarcal que põe o homem numa posição de dominância e privilégio em relação às mulheres e a todas as outras identidades de género”, afirma. “Isso é visível num assédio na rua, numa desigualdade salarial no trabalho, no trabalho doméstico da cuidadora, que por norma é uma mulher, no medo de se andar sozinha na rua, de ser violada.”
A ideia do documentário é “falar e debater” sobre a desigualdade de género, além de perceber “quem é que beneficia” dele. "Queremos que seja para o despertar da consciência e [para] tentarmos perceber o que são essas imposições que nós vivemos, e que somos levados a agir”, expõe.
Para o efeito, Lúcia Vicente, autora do livro Portuguesas com M Grande, reflecte no documentário sobre “as marcas gritantes” do patriarcado na sociedade. “Em Portugal, como é que podemos dizer que estamos numa sociedade patriarcal? Basta olhar para os órgãos de poder, basta olhar para [o facto de] todas as pessoas que tomam decisão serem homens”, afirma.
Já a médica humanitária Ana Paula, conhecida por Lokas Cruz, discorre durante o filme sobre a repressão sexual feminina, resultado do ideal que “reconhece a mulher como um objecto sexual, mas não um ser sexual”. “Existe a opressão, discriminação, perseguição ou julgamento de mulheres pela maneira como elas expressam a sua sexualidade, o seu género, as suas escolhas – que são desajustadas à luz de um padrão social qualquer”, refere.
E “se por um lado essa sociedade patriarcal retira a voz das mulheres e as oprime, por outro reprime também os homens”, diz Vanessa, ao P3. Assim, a conversa envolve não só mulheres de diferentes lugares de fala, mas também homens que se dedicam a quebrar o conceito de masculinidade, de “alguém que nunca pode mostrar e expressar as suas emoções, vulnerabilidades”. “Nós queríamos ter o maior número de pessoas diferentes, de diferentes lugares de fala e de privilégio, e experiências diferentes”, conta. “O patriarcado é um sistema social que prejudica toda a gente e achamos que é fundamental continuar a reflectir e questionar todos esses padrões e categorias que são impostos e que dividem a nossa sociedade de uma forma tão binária.”
Nesse sentido, o produtor de eventos e DJ Peter Castro e o terapeuta transpessoal e facilitador de círculos de homens Bruno Pinheiro abordam, na longa-metragem, questões sobre “ser-se homem”. Assim, Peter considera que “há uma lista de obrigação para os homens” resultante “do machismo”, a qual exige “ser viril, capaz, saber providenciar bens e riqueza”. Bruno Pinheiro refere que, ao mesmo tempo que “o patriarcado dá uma ilusão de poder”, cria uma lacuna “psico-emocional” que acarreta “mecanismos de auto-repressão emocional absurdamente violentos”.
O documentário já está disponível na plataforma Filmin Portugal, uma escolha que teve como finalidade conseguir a “maior visibilidade possível”, explica Vanessa Rodrigues. A ideia é “ser visto por toda a gente, independentemente do sítio onde esteja”.
Texto editado por Ana Maria Henriques