Tiananmen: homenagens em Taiwan, silêncio em Hong Kong e Macau
Centenas de pessoas juntaram-se em Taipé para lembrar vítimas do massacre de 1989. Vigílias foram proibidas na região administrativa especial e EUA acusam Pequim de querer “apagar as memórias”.
Pelo segundo ano consecutivo, o parque Vitória, em Hong Kong, não se encheu de luz no dia 4 de Junho. Em vez das velas e da tradicional vigília, foram os agentes policiais e alguns cães-pisteiros a marcar presença no local — um dos poucos, em território chinês, onde até há bem pouco tempo ainda se podia homenagear as vítimas do massacre de Tiananmen, de 1989.
Este foi, na verdade, o terceiro ano em que as manifestações estão proibidas, mas em 2020 milhares de pessoas desafiaram as autoridades e fizeram questão de comemorar a data. Os seus organizadores foram, no entanto, detidos e condenados, ao abrigo da polémica lei de segurança nacional.
Se em 2020 e 2021 as autoridades da região administrativa especial chinesa justificaram a proibição das manifestações com a covid-19, desta vez citaram ameaças online contra a polícia e o risco da ocorrência de “actividades ilegais” para tomarem a mesma decisão e encerrarem parcialmente o parque Vitória.
Algumas pessoas passearam pelas imediações do parque com as lanternas dos telemóveis ligadas e há relatos de detenções.
Em Macau, o Largo do Senado também não foi palco de vigílias como noutros tempos, por causa do “crescente ambiente político hostil”, explicaram à Lusa os habituais organizadores do evento.
A proibição da evocação da memória de um acontecimento que é contestado pela República Popular da China – o Partido Comunista rejeita as acusações de que o Exército chinês matou dezenas de milhares de pessoas que participavam num protesto estudantil, em Pequim, há 33 anos, pedindo reformas democráticas – também se estendia às representações diplomáticas em Hong Kong.
Mas, segundo a Hong Kong Free Press e o South China Morning Post, foram vistas velas nas janelas dos edifícios das representações dos Estados Unidos e da União Europeia. Para além disso, os consulados dos EUA, do Canadá e da Austrália, entre outros, publicaram mensagens evocativas da data nas suas redes sociais.
Num comunicado, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, acusou ainda o Governo de Xi Jinping de querer “apagar as memórias” do dia 4 de Junho de 1989 e homenageou os “corajosos manifestantes” que, garantiu, “não serão esquecidos”.
Para o movimento pró-democracia da antiga colónia britânica, a proibição da homenagem das vítimas de Tiananmen por parte das autoridades é uma decisão “política”, que se enquadra no trajecto de cada vez maior ingerência de Pequim nos assuntos de Hong Kong que tem sido trilhado nos últimos anos, nomeadamente através da imposição da lei de segurança, vista como uma arma de perseguição da dissidência.
Prova disso, dizem, foi a retirada do “Pilar da Vergonha” do campus da Universidade de Hong Kong, em Dezembro do ano passado, por “motivos de segurança” relacionados com o seu “estado de degradação”. A escultura estava naquele local há mais de duas décadas e servia de memorial das vítimas do massacre de 1989.
Quem saiu à rua neste sábado para lembrar Tiananmen foi a população de Taipé. Na capital de Taiwan, a ilha asiática que o Governo chinês diz ser uma província chinesa “ocupada” desde 1949, centenas de pessoas recordaram o 33.º aniversário da repressão em Pequim.
Na sua página de Facebook, a Presidente Tsai Ing-wen criticou a estratégia chinesa de tentar “apagar sistematicamente a memória colectiva de 4 de Junho em Hong Kong”, mas afiançou que a “força bruta” nunca será capaz de “apagar as memórias das pessoas”.