Chefe da diplomacia chinesa quer elevar parceria com Timor-Leste a “um novo patamar”
Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês completou em Díli o seu périplo por dez nações do Pacífico. Ramos-Horta desvaloriza receios do Ocidente sobre acções da China na região
O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês comprometeu-se este sábado a reforçar e a expandir a cooperação da China com Timor-Leste e saudou o relacionamento de duas décadas entre os dois países.
“Já estabelecemos esta parceria entre a China e Timor-Leste e gostaríamos de a elevar a um novo patamar, criando um bom exemplo de respeito mútuo, benefícios mútuos e para o desenvolvimento comum entre os países”, disse Wang Yi aos jornalistas, em Díli.
“Já realizámos projectos exemplares na área da rede eléctrica, nas estradas e no porto e isso ajuda muito o desenvolvimento das infra-estruturas do país. As exportações de Timor-Leste para a China aumentaram 90% e o café de Timor-Leste é cada vez mais procurado na China”, acrescentou.
Wang Yi falava aos jornalistas numa curta conferência de imprensa, com apenas três perguntas, no final de um encontro com o Presidente timorense, José Ramos-Horta.
“A China é a segunda maior economia do mundo e membro do conselho permanente da ONU e é um país em desenvolvimento, e está sempre ao lado dos outros países em desenvolvimento. Visitei Timor-Leste para ouvir as necessidades do país e para promover a colaboração bilateral e ajudar Timor-Leste a acelerar o desenvolvimento e elevar a vida do povo”, afirmou.
O encontro com os jornalistas não estava previsto na agenda da visita e realizou-se depois de várias críticas, incluindo do Conselho de Imprensa timorense, pela recusa do governante chinês de prestar declarações aos meios de comunicação social.
Questionado sobre as preocupações em alguns países, incluindo Austrália e Estados Unidos, sobre os interesses da China na região, Wang Yi disse tratarem-se de relações normais que Pequim tem vindo a promover.
“A China quer desenvolver relações amigáveis com todos os países, não apenas no Pacífico. Fomos a África, à América Latina e ao Médio Oriente também”, afirmou.
“Se a nossa viagem à região ajuda a motivar outros países a darem mais atenção a estas regiões e encorajar outros países a ajudar o desenvolvimento destas regiões, então porque não? Isto é normal e creio que é positivo para todo o mundo. Se não, é injusto deixar estas regiões abandonadas e esquecidas pelo mundo”, sublinhou.
Durante a visita foi possível chegar a “vários consensos”, incluindo a “defesa do multilateralismo e do papel central da ONU para enfrentar os desafios” do planeta, disse Wang Yi, salientando que a China “continua a apoiar a adesão de Timor-Leste à ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático]”.
Em concreto, no caso de Timor-Leste, o ministro destacou a colaboração no sector da saúde, comprometendo-se a enviar mais material de apoio e vacinas para combater a pandemia da covid-19 e equipas médicas.
“Nos últimos 20 anos, as nossas equipas médicas já trataram 300 mil doentes em Timor-Leste. Vamos enviar mais equipas médicas de acordo com as necessidades de Timor-Leste”, disse.
Sobre as duas décadas de relações bilaterais, Wang Yi lembrou que foi o próprio Ramos-Horta, então ministro dos Negócios Estrangeiros, que “assinou o comunicado conjunto”.
Agradecimento à China
Por seu lado, José Ramos-Horta afirmou que o encontro serviu para analisar as relações bilaterais, tendo agradecido à China pelos “20 anos de relações bilaterais, de apoio que tem dado em infra-estruturas, educação, saúde e educação”, com centenas de jovens a estudarem na China.
O chefe de Estado disse ter pedido a Wang Yi para que, no quadro do encontro do G20, se discuta o perdão ou a reestruturação da dívida dos países em desenvolvimento.
“Pedi a atenção do MNE [ministro dos Negócios Estrangeiros] e da China, no quadro da reunião do G20, e como consequência da pandemia e da guerra na Ucrânia que agravou a situação económica mundial, para seriamente a comunidade internacional ver a questão do perdão ou reestruturação de dívidas dos países do terceiro mundo, a única possibilidade para esses países poderem recuperar economicamente”, disse.
Questionado sobre os receios, no Ocidente, relativamente à acção da China no Pacífico, Ramos-Horta disse que “não há razões para alarme” e lembrou que Pequim sempre teve interesses na zona, por exemplo, na pesca.
“Estes países do Pacífico têm feito muito lobby com a China para ter mais apoios e a China está a responder a isso. Esses acordos pontuais com um ou outro país não afectam os interesses de longa data de países como a Austrália e os Estados Unidos”, afirmou.
“A China está a levar isto com muita naturalidade e sem qualquer emoção. Estão a querer apoiar o Pacífico, como apoiam países em África ou na América Latina, algo que têm feito ao longo de décadas”, disse.
“Eu gostaria de ver uma relação expandida com a China, mas advogo apenas os programas e pedidos do nosso Governo que é quem define as áreas prioritárias em que precisa de apoio da China e isso será sujeito a acordos”, acrescentou.
Ramos-Horta disse que durante a reunião não se falou “sobre segurança marítima ou segurança no Pacífico” e afirmou que a delegação chinesa até considerou “divertido as reacções de outros países à visita do ministro ao Pacífico”.