Shalom Auslander: “Deus criou o mundo e ao antever o futuro disse: ‘É melhor dar-lhe piadas’”
É um nome a seguir, pelo humor negro com que enfrenta a existência. Em Mãe Para Jantar cria uma comunidade canibal em extinção para falar do outro, de Deus, da família, de culpa e de castigo. É o humor que vem do sofrimento, inspirado em Kafka ou Beckett.
No dia em que o actor Philip Seymour Hoffman morreu, Shalom Auslander não conseguiu esconder o sofrimento. O filho, na altura com sete anos, perguntou-lhe se estava triste. Sim, tinha morrido um amigo. Seguiram-se mais perguntas da criança. Porquê? Shalom respondeu: “Porque era um homem bom e disseram-lhe que era mau”. A explicação foi a mais simples que encontrou. Auslander e Hoffmann tinham sido próximos, tiveram muitas conversas, raramente sobre trabalho. “Eu era o tipo criado no judaísmo ortodoxo numa pequena cidade, ele era um católico irlandês. As duas famílias eram problemáticas, castigadoras, e nós em permanente vigilância, diziam-nos, por um Deus punitivo. Em adulto eu gostava de estar fechado no escritório com as cortinas para baixo a escrever. Ele gostava de estar em palco diante de milhares de pessoas. Havia tantas semelhanças nas nossas vidas, nas nossas famílias”, conta Auslander a partir de Los Angeles, onde vive, para explicar um demónio que vive nele, que lhe foi incutido pela ideia de um Deus castigador. Um demónio que o riso tem ajudado a domesticar. No seu caso, através da literatura marcada pelo humor negro, satírica, que vai ao detalhe mais rotineiro para expor a imbecilidade humana até ela se tornar uma explosão de gargalhada.
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