Surfistas e cientistas dão “nova vida” à floresta de algas em Peniche
No âmbito do projecto ReGeneration Surf, cientistas e surfistas vão ao mar recolher as sementes das algas e levam-nas para um laboratório, onde são criadas num ambiente ideal para o seu crescimento.
As primeiras algas com crescimento controlado em laboratório já foram lançadas ao mar em Peniche, depois de dois meses no “berço”, com atletas, ambientalistas e cientistas unidos em torno do projecto ReGeneration Surf.
“É algo que nunca foi feito. É um projecto ainda em fase experimental, mas foi uma grande experiência reunirmo-nos há uns meses para aprender sobre o processo de reflorestação das algas e, agora, activamente, fazer essa reflorestação, colocando as algas no oceano”, salientou Natalie Fox, coordenadora do ReGeneration Surf, projecto apoiado pela Liga Mundial de Surf (WSL).
Foi na Prainha de São Pedro, junto ao Museu Nacional Resistência e Liberdade, em Peniche, que surfistas e ambientalistas pegaram nas pranchas e foram a remar até ao sítio escolhido para depositar as pequenas algas no fundo do mar.
Do Porto de Peniche, os cientistas arrancaram de barco até ao ponto de encontro, entregando o “tesouro” aos que já os esperavam, fazendo um círculo de celebração, ou não fosse este o primeiro depósito realizado.
“Eu fiquei superinspirado com este projecto desde o princípio. É superinspirador ver que há um trabalho conjunto, que não é só dos cientistas ou dos biólogos — ou dos surfistas locais. É uma junção para um bem maior”, realçou, esta segunda-feira, o surfista profissional Miguel Blanco.
As sementes das algas são apanhadas no mar e levadas para o laboratório do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (Mare), no Instituto Politécnico de Leiria, onde são criadas durante dois meses num ambiente ideal para o seu crescimento. A lógica é simples: aumentar a probabilidade de sobrevivência destes organismos aquáticos e, assim, ajudar à regeneração da floresta de algas em Peniche.
“Temos de acordar, é agora, estamos a poluir cada vez mais a natureza e temos de acreditar num mundo melhor”, diz a surfista Joana Andrade, destacando a importância das algas marinhas no ecossistema — e, também, o seu potencial económico para, por exemplo, fins medicinais.
Joana Andrade acrescenta: “Dizemos que é o planeta Terra, mas devia ser ao contrário; devia ser o planeta Oceano, porque há mais mar do que terra. E nós somos 80% de água. Quase toda a vida vem do oceano e temos, cada vez mais, de cuidar da nossa casa, que é o nosso planeta.”
Nem o tempo cinzento nem o mar picado pelo vento assustaram os participantes, entusiasmados por darem o seu contributo. “Achei espectacular, sinceramente. No fundo, é o equivalente a plantar uma árvore. E estar neste início é realmente muito especial”, sublinhou o surfista João Macedo.
Com as algas colocadas no oceano, os participantes foram visitar as instalações onde já se desenvolve a próxima geração de algas. “Agora lançámos as algas marinhas ao mar, mas há todo um procedimento antes disso, que passa pela preparação da gravilha, e é nisso que entra o Mare. Estamos aqui em Peniche e damos todo esse apoio científico”, afirmou o investigador João Franco.
O projecto ReGeneration Surf é uma coligação de quatro organizações ambientalistas (Mossy Earth, Sea Forester, Oceans and Flow e Zero Waste Lab), parceiros da campanha We Are One Ocean (Somos Um Oceano) da WSL. É um dos cinco projectos a nível mundial que estão a ser apoiados financeiramente pela entidade mundial do surf.
“Escolhemos o ReGeneration Surf porque a sua proposta está alinhada com todos os três pilares ambientais da WSL. E ficámos curiosos com a colaboração, dentro do projecto, entre quatro organizações inspiradoras, sob a liderança da ReGeneration Surf. Também apreciámos a proximidade com o nosso evento do circuito mundial em Portugal [na Praia de Supertubos]”, revelou à agência Lusa Emily Hofer, directora executiva da WSL PURE (organização sem fins lucrativos da gestora dos circuitos profissionais de surf).