Poluição por beatas de cigarros é problema ambiental nos Açores

A Convenção das Organizações para um Oceano Limpo propõe como solução a aplicação de multas, a criação de beatas biodegradáveis e a disponibilização de cinzeiros exteriores nos cafés no arquipélago açoriano.

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As beatas têm impactos nos ecossistemas terrestres e marinhos Enric Vives-Rubio/Arquivo

Um relatório da Convenção das Organizações para um Oceano Limpo (COOL) identificou vários “problemas ambientais” na região dos Açores, como a poluição por beatas de cigarros, a sobrepesca e o desordenamento do território.

O documento, a que agência Lusa teve acesso, resulta do trabalho de 24 organizações não-governamentais açorianas e identifica “problemas ambientais” em cada uma das ilhas do arquipélago e outros de “âmbito regional”.

Nos “problemas” regionais, “transversais a todas as ilhas”, a COOL Açores realça a “poluição por beatas de cigarros”, sobretudo causada pelo “descarte nas ruas e nos sumidouros das caixas de águas pluviais”. “Grande parte dos cafés que possuem sumidouros junto da porta do seu estabelecimento usa-os como balde do lixo. É muito frequente verem-se as caixas dos sumidouros cheias de beatas e pequenos plásticos. E o problema não se cinge a estes espaços, sendo um problema geral e recorrente”, lê-se no documento divulgado esta quinta-feira.

Como soluções, a COOL propõe a “aplicação de multas efectivas”, a criação de “beatas biodegradáveis”, a “disponibilização de recipientes adequados no exterior dos estabelecimentos e a promoção de “campanhas de sensibilização”.

“As beatas têm impactos significativos nos ecossistemas terrestres e marinhos, contaminando o solo e a água e podendo ser ingeridas por animais, o que pode levar à sua morte ou asfixia”, indica o relatório.

Os autores defendem que existe a “necessidade de aumentar o número de fontes de energias renováveis, incluindo o contributo dos privados”.

O documento considera como “problema” o “desordenamento do território” da região, apelando a uma reconversão dos terrenos tendo em vista o “recarregamento dos aquíferos e a fixação de dióxido de carbono”. “Existem apoios para reconversão de terrenos, mas não para plantação de árvores. É necessário e urgente o reordenamento do território de altitude para a plantação de árvores”, observa-se. As organizações alertam ainda para a falta de “fiscalização da sobrepesca” no arquipélago.

“Falta concretização prática da protecção das áreas marinhas protegidas (AMP). [Um] problema transversal a ecossistemas terrestres”, defendem, lembrando que os Açores têm “apenas 5%” de AMP.

O relatório aponta também a “falta de incentivos à produção agrícola” biológica, condenando o “uso excessivo de fertilizantes químicos” que “contaminam o solo”.

O documento identifica vários “problemas” para cada uma das ilhas, como o “lixo marinho” na ilha do Corvo, os “microplásticos da praia de Porto Pim”, no Faial, a “falta de literacia ambiental” nas Flores, a “pesca ilegal” na Graciosa e o “depósito de resíduos nos portos e cais” no Pico.

Em São Jorge, o relatório alerta para a “baixa taxa de reciclagem”, em São Miguel para a “destruição da orla costeira” e para o projecto da incineradora, em Santa Maria para os microplásticos nas praias, e na Terceira para as “aglomerações de plástico ao longo de toda a costa” da ilha.

A COOL é uma iniciativa da Fundação Oceano Azul que tem como objectivo a criação de uma rede nacional de organizações que se dedicam à protecção e conservação do oceano.