Diploma de ensino superior: uma oportunidade ou só um papel?
No debate “A (in)felicidade de um diploma” da mais recente edição do PSuperior Talks, estudantes e profissionais discutiram sobre a importância de concluir um curso superior e sobre alguns problemas que recém-formados encontram à entrada do mercado de trabalho.
Recém-licenciado e desempregado. Uma combinação que, segundo o estudo de 2020 da Brighter Future, da Fundação José Neves, afecta cerca de 5 em cada 100 recém-licenciados. Actualmente, a ideia de que um curso superior é uma garantia de emprego e de um bom salário está a esfumar-se.
Com esta realidade como pano de fundo, teve lugar esta quarta-feira, na Universidade de Aveiro, o debate “A (in)felicidade de um diploma”, da terceira série do PSuperior Talks, em parceria com Fundação José Neves.
A moderação do debate coube ao director-adjunto do PÚBLICO, David Pontes, que começou por sublinhar a importância de reflectir sobre as expectativas em relação ao diploma e os benefícios palpáveis de concluir ensino superior. O painel de oradores contou com a presença do economista e ex-ministro da Economia, Daniel Bessa, o professor e investigador no Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES), Hugo Figueiredo, o empresário Ricardo Luz e o presidente da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv), Wilson Carmo.
Quanto vale um diploma?
“Um diploma nunca é uma infelicidade”. Foi desta forma que Daniel Bessa principiou a sua intervenção no debate. No entanto, reforçou que “há competências a que a escola não chega”, em áreas como as línguas estrangeiras, competências digitais e comportamentais.
Ricardo Luz acrescentou que o diploma traz melhores salários ao trabalhador e Hugo Figueiredo explicou que as diferenças na taxa de emprego e na velocidade de transição para um emprego são notórias entre licenciados e não-licenciados.
Com uma perspectiva distinta, Wilson Carmo explicou que há duas formas de ver um diploma: uma felicidade imensa por se entrar no ensino superior ou uma infelicidade quando se ingressa num curso por obrigação. “Eu vou para o ensino superior porque me quero especializar naquilo que gosto.”
O estudante afirmou, no entanto, que pode justificar-se não concluir o grau em tempo útil caso uma boa oportunidade de emprego o justifique. O restante painel, sem discordar por completo, sublinhou que é importante concluir o grau.
Há mestrandos a mais em Portugal?
Em cada 100 inscritos no ensino superior, 33 estão em mestrados e 6 em doutoramento. Valores significativamente mais elevados do que a média da OCDE (16% de estudantes em mestrado e 2% em doutoramento). Este maior número de mestres no mercado de trabalho pode acabar por dificultar a obtenção de emprego por parte de licenciados.
Para Daniel Bessa, “quem parte para uma licenciatura não pode partir com a expectativa de diferenciação que esse grau ofereceu noutros tempos”. No entanto, o ex-ministro reforçou que não é imperativo fazer-se mestrado imediatamente após a conclusão da licenciatura e referiu a importância da experiência profissional.
Sobre o facto de existirem diferenças salariais entre licenciados e mestres maiores do que entre licenciados e não-licenciados, Hugo Figueiredo referiu que tal se deve à redução de salários por parte das pessoas só com licenciatura.
Wilson Ramos explicou que o mercado é cada vez mais exigente, o que leva mais estudantes a tirar mestrado. No entanto, considerou que o grau deve ser uma oportunidade para se especializar numa área de interesse e não simplesmente uma ferramenta para conseguir trabalho.
O presente e o futuro
Foi praticamente unânime entre os oradores que a economia portuguesa não está a acompanhar a evolução do sistema de ensino. Ricardo Luz afirmou que, perante a situação actual, os recém-formados têm duas soluções possíveis: “Ou mudam, ou mudam-se”. Daniel Bessa referiu que o sistema de ensino dá expectativas às pessoas que o país “não consegue honrar”.
O economista sublinhou ainda a importância da formação continua e do regresso à escola ao longo da vida. “O mestrado oferece uma primeira especialização, a vida exige especializações progressivas”, acrescentou.
Wilson Carmo concluiu que a formação não deve ter apenas o fim de realização profissional, mas também de crescimento pessoal: “Eu tenho de fazer esta formação porque preciso e porque quero. Porque quero ser um membro da sociedade cada vez mais forte”.
Texto editado por Pedro Sales Dias