Israel assina nos Emirados primeiro acordo de comércio livre com um país árabe

Com este pacto, 96% dos produtos comercializados entre os dois países ficarão isentos de taxas alfandegárias. Novos sinais de aproximação entre israelitas e sauditas, quando Biden prepara viagem à região.

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O acordo nas mãos da ministra israelita da Economia e da Indústria, Orna Barbivai, e do seus homólogo, Abdulla bin Touq al-Marri ANUJ TAYLOR STRAP STUDIOS-GPO/Reuters

Menos de dois anos depois de anunciarem a normalização de relações diplomáticas – no primeiro dos chamados Acordos de Abraão, patrocinados pela Administração de Donald Trump – Israel e os Emirados Árabes Unidos assinaram um acordo de comércio livre global que descrevem como histórico. Para o ministro da Economia da federação de estados árabes, Abdulla bin Touq al-Marri, este pacto “vai criar um novo paradigma na região”. O primeiro-ministro israelita, Naftali Bennet, celebrou “o primeiro [acordo] deste alcance assinado entre Israel e um país árabe”.

Assinado esta terça-feira no Dubai pela ministra israelita da Economia e da Indústria, Orna Barbivai, e por Marri, o pacto prevê a isenção de impostos para 96% das trocas comerciais (incluindo alimentos, produtos de cosmética, equipamento médico e medicamentos), nalguns casos de forma imediata.

Após seis meses de negociações, a assinatura acontece numa altura em que a violência entre israelitas e palestinianos está a aumentar, e apenas dois dias depois de 50 mil pessoas terem participado na extremista “marcha das bandeiras”, passando pela Porta de Damasco (que permite aceder à parte muçulmana da Cidade Velha de Jerusalém) e entoando “morte aos árabes”, no Dia de Jerusalém.

Na segunda-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros dos Emirados condenou o assalto de “colonos extremistas protegidos pelas forças de Israel” ao complexo da mesquita de Al-Aqsa, pedindo às “autoridades israelitas que assumam a responsabilidade de reduzir a escalada e de pôr fim a ataques e práticas quem levam a contínuas tensões”.

O ano passado já ficara claro que a situação dos palestinianos não travaria o aprofundar das relações entre os Emirados e Israel: em Junho, pouco depois da ofensiva de Maio na Faixa de Gaza, o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Yair Lapid, aterrava em Abu Dhabi, tornando-se o primeiro membro de um Governo de Israel a visitar oficialmente a federação do Golfo Pérsico. Citada pelo jornal The Times of Israel, Barbivai disse que ainda não ouviu “nada fora do comum” sobre a violência em Al-Aqsa durante a viagem ao Dubai.

Desde os Acordos de Abrãao, o comércio entre os dois países somou 2,5 mil milhões de dólares (2,3 mil milhões de euros), disse a semana passada em Davos o ministro do Comércio Externo dos Emirados, Thani bin Ahmed al-Zeyoudi, devendo estas trocas chegar aos 5 mil milhões (4,7 mil milhões de euros) em 2023-2024.

Ainda segundo Zeyoudi, com 65 acordos e protocolos já assinados até agora entre os dois países, mais de mil empresas israelitas vão estabelecer uma presença comercial nos Emirados até ao fim do ano. “O Dubai está a um passo de se tornar num centro para as empresas israelitas que considerem a Ásia do Sul, o Médio Oriente e o Extremo Oriente como mercados”, diz num comunicado Dorian Barak, o israelita que preside ao Conselho Comercial Emirados-Israel. Mais do que o “mercado doméstico”, afirma, “a verdadeira oportunidade é instalar-se no Dubai, como muitas empresas já fizeram, para chegar a uma região mais vasta”.

Para os Emirados, o pacto com Israel é o segundo acordo de comércio livre, depois de um semelhante assinado com a Índia em Fevereiro. Israel tinha até agora acordos idênticos com os Estados Unidos, a União Europeia, o Canadá e o México. Em Fevereiro, os israelitas assinaram ainda um acordo de comércio com Rabat para designar zonas industriais especiais em Marrocos (depois de em Novembro terem assinado um memorando de entendimento para a defesa com a monarquia do Magrebe). Marrocos foi o último país árabe a normalizar relações com Israel, no fim de 2020, depois dos Emirados, Bahrain e Sudão.

Biden no Médio Oriente

Fora dos Acordos de Abraão ficou a Arábia Saudita, principal país árabe do Golfo, mas as notícias de aproximação entre sauditas e israelitas têm-se sucedido. De acordo com o Canal 12 israelita, um alto responsável israelita visitou o reino para discussões sobre segurança regional, enquanto o diário financeiro hebraico Globes escreve que dezenas de empresários israelitas estiveram recentemente na Arábia Saudita para negociações avançadas sobre investimentos sauditas em empresas e fundos de investimento de Israel.

Em Março, o príncipe herdeiro saudita, Mohammad bin Salman, disse que Israel pode ser “um potencial aliado” de Riad, mas, apesar dos sinais, vários analistas da região prevêem que a normalização de laços ainda demore e só aconteça depois de Salman ser rei. Entretanto, a Casa Branca continua a promover a cooperação entre os seus aliados e o périplo que o Presidente, Joe Biden, fará pelo Médio Oriente em Junho vai levá-lo aos dois países.

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