Inflação chega aos 8%, o valor mais alto dos últimos 29 anos

Subida de 27,2% nos preços da energia e de 11,7% nos produtos alimentares conduz inflação para o valor mais alto desde 1993.

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Nuno Ferreira Santos

Os preços em Portugal aumentaram mais 1% durante o mês de Maio, colocando a taxa de inflação homóloga em 8%, o valor mais alto registado no país desde 1993.

A estimativa rápida da inflação publicada esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) revela que não foi ainda este mês que a tendência de escalada de preços - iniciada em meados do ano passado e agravada com os impactos da guerra na Ucrânia no custo da energia e dos bens alimentares - se começou a dissipar.

Os preços da generalidade dos bens, com destaque para os combustíveis e os bens alimentares, continuaram a subir, fazendo aumentar a variação face ao período homólogo, que atinge agora o valor mais alto em quase 30 anos.

A taxa de inflação mensal foi de 1%, o que colocou a taxa de variação homóloga em 8%, uma subida face aos 7,2% registados em Abril.

Continua a ser evidente o contributo dado pelos combustíveis para esta escalada dos preços. De acordo com o INE, a taxa de inflação homóloga relativa aos produtos energéticos subiu de 26,7% em Abril para 27,2% em Maio, naquele que é o valor mais alto deste indicador desde 1985.

De igual modo, os produtos alimentares continuaram a revelar uma marcada subida de preços, com a taxa de inflação destes produtos a subir de 9,4% em Abril para 11,7% em Maio.

De qualquer modo, apesar do contributo decisivo dos combustíveis e dos alimentos, é também evidente que as pressões inflacionistas se estão a fazer sentir já na generalidade dos produtos. O INE revela que o indicador de inflação subjacente (que não inclui os bens energéticos e alimentares) registou uma variação homóloga de 5,6%, uma subida face aos 5% de Abril e o valor mais alto desde 1994.

Igual à zona euro

Portugal, que desde o início do ano passado manteve sempre uma taxa de inflação inferior à da maioria dos seus parceiros da moeda única, evitando impactos tão imediatos nos preços, está agora já ao nível do resto da zona euro neste indicador.

A taxa de inflação harmonizada (aquela que é calculada com exactamente a mesma metodologia em todos os países da zona euro e que serve para as comparações entre países) cifrou-se em Maio nos 8,1%, depois de 7,4% em Abril. Estes dois valores são exactamente os mesmos da média dos 19 países da zona euro.

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Entre Janeiro de 2021 e Março de 2022, no entanto, Portugal registava uma taxa de inflação mais baixa que a da zona euro, algo que era explicado, entre outros factores, pelo impacto mais negativo da pandemia na actividade económica em Portugal e com o peso mais elevado dos impostos nos combustíveis (o que fazia com que a subida do preço do petróleo no mercado conduzisse a taxas de variação menores no preço dos combustíveis).

Portugal chegou a ser, no início deste ano, o país da zona euro com a taxa de inflação mais baixa, um facto que os membros do Governo não se cansaram de assinalar. Contudo, em Abril e Maio, essa diferença esbateu-se.

Há neste momento, cinco países na zona euro com uma inflação homóloga mais baixa que Portugal, com destaque para a França e Itália que, com este indicador nos 5,8% e 7,3%, são os países que mais contribuem para limitar um pouco a escalada da inflação na zona euro.

A Alemanha, pelo contrário, registou em Maio mais uma subida muito significativa da inflação, que passou de 7,8% para 8,7%, o valor mais alto no país em quase 50 anos.

Uma coisa é certa, a subida da inflação na zona euro acima da barreira dos 8% apenas irá reforçar o sentimento de urgência que já se está a sentir dentro do Banco Central Europeu. Christine Lagarde deixou claro nas últimas semanas que a autoridade monetária da zona euro deverá, já em Julho, iniciar o processo de subida das taxas de juro, que deverá depois ser prosseguido na reunião do conselho de governadores agendada para Setembro.

A expectativa, neste momento, é a de que, para combater a subida da inflação, o BCE acabe com as compras líquidas de dívida pública nos primeiros dias de Julho, decida a primeira subida de taxas de juro na reunião de 21 de Julho e que repita o mesmo gesto em Setembro. As taxas de juro dos depósitos, actualmente, em -0,5%, deverão chegar ao fim do ano, já em terreno positivo.

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