DGS recomenda isolamento e abstinência sexual (entre outras medidas) para combater o surto

A Direcção-Geral da Saúde emitiu nesta terça-feira à tarde a orientação técnica em que determina as medidas de resposta ao surto de varíola-dos-macacos em Portugal, onde já há cem pessoas infectadas. Vírus poderá ter entrado em Portugal a 15 de Março.

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Portugal tinha cinco casos suspeitos já a 3 de Maio ANTÓNIO COTRIM/Lusa

A Direcção-Geral da Saúde (DGS) emitiu nesta terça-feira as medidas de saúde pública para conter o surto de varíola-dos-macacos (também conhecida como vírus monkeypox, ou VMPX). O isolamento físico até à queda das crostas, a privação de contactos próximos, a manutenção de abstinência sexual e não partilhar roupa ou objectos são algumas das principais recomendações da autoridade de saúde nacional.

A orientação técnica em que são definidas as medidas de resposta à infecção humana por VMPX não divergem das já publicadas por outras autoridades de saúde europeias. Além das recomendações já mencionadas, os casos prováveis ou confirmados devem garantir a higienização de superfícies e objectos com os quais contactem e não devem permanecer no mesmo espaço que outras crianças pequenas, grávidas ou pessoas imunodeprimidas. O contacto próximo com animais domésticos também deve ser evitado em caso de sintomas, bem como com outros animais (especialmente roedores).

O isolamento mantém-se perante um caso suspeito ou confirmado até à queda das crostas, que geralmente ocorre entre duas a quatro semanas depois das erupções cutâneas.

Em caso de sintomas suspeitos, devem ser alertadas as autoridades de saúde, e se for necessária a deslocação a uma unidade de saúde, quebrando assim o isolamento, todas as lesões devem estar cobertas e deverá usar-se máscara facial. A DGS recomenda que, numa situação de suspeita de infecção ou em caso de sintomas, deve ser contactado o SNS24 para a situação poder ser referenciada nos serviços de saúde e, depois, ser indicado o serviço de urgência ou uma consulta médica para observação.

Os casos suspeitos, prováveis e confirmados não devem também doar sangue, células, tecidos, órgãos, leite materno ou sémen, até nova indicação das autoridades nacionais e europeias sobre o período de tempo em que se aplicam estas recomendações.

À imagem do Centro Europeu de Controlo de Doenças, a DGS define um contacto de risco no contexto desta doença como alguém que tenha sido exposto de forma directa a lesões cutâneas ou mucosas, ou a fluidos corporais de um caso suspeito, provável ou confirmado (como sangue, urina, fezes, vómito, expectoração). Além disso, é também considerado um contacto a partilha do mesmo espaço físico sem distanciamento superior a um metro com um caso suspeito ou confirmado ou se se estiver em contacto com materiais, utensílios ou objectos contaminados.

Em relação aos contactos que permanecem assintomáticos, não será necessário isolamento enquanto essas pessoas se mantiverem sem sintomas, dado que o período de contágio está correlacionado com o início dos sintomas, afirma a DGS. “Podem continuar as actividades diárias rotineiras, como trabalhar e frequentar a escola. Durante o período de vigilância, é recomendável evitar viagens longas/grandes distâncias para que possa ser mais exequível e mais rápido o isolamento, na eventualidade de aparecimento de sinais e/ou sintomas”, escreve-se ainda nas orientações técnicas.

Portugal é o país com mais casos confirmados por milhão de habitantes, tendo totalizado cem nesta terça-feira. Em todo o mundo, já há mais de 500 pessoas infectadas em países em que o VMPX não é endémico, com destaque para Reino Unido, que soma 179 casos confirmados, e Espanha, com 132.

Cinco casos detectados a 3 de Maio

Os primeiros casos em Portugal, como já tinha sido noticiado, remontam a 3 de Maio último, quando foram “identificados cinco casos atípicos de úlceras genitais em homens em consultas de infecções sexualmente transmissíveis”. As primeiras três amostras foram confirmadas a 17 de Maio para VMPX, tornando-se os primeiros casos de infecção por este vírus no país. Nas últimas duas semanas, Portugal já registou cem casos.

O vírus pode estar a circular em Portugal desde 15 de Março deste ano. A data é apontada nesta orientação técnica, em que a DGS estima que o VMPX possa estar em circulação há quase três meses. A informação surge a partir da definição de caso suspeito ou confirmado, onde é estabelecida a data a partir da qual os sintomas da doença podem ser indicativos de infecção.

O PÚBLICO já tinha noticiado, na última quinta-feira, que a DGS já apontaria para o final de Março a chegada do vírus a Portugal. Já o Centro Europeu de Controlo de Doenças indica 1 de Março como possível início de circulação do vírus na Europa, no seu relatório de avaliação de risco de 25 de Maio.

Quanto à vacinação, a DGS continua a referir que está a ser avaliada, neste caso pelo Programa Nacional de Vacinação, a Comissão Técnica de Vacinação e o Infarmed com as autoridades internacionais competentes. Margarida Tavares, porta-voz da DGS para este surto, já tinha confirmado que Portugal avançará para a compra conjunta de vacinas de terceira geração com a União Europeia. Faltava, e continua em falta, a confirmação da necessidade de vacinação, bem como a estratégia a pôr em prática em Portugal, caso se avance para a administração de vacinas. Na última semana, Margarida Tavares realçava que o cenário mais plausível seria a vacinação de “pessoas que possam ser expostas e ter um risco acrescido, como, por exemplo, doentes imunocomprometidos ou profissionais de saúde”.

A DGS não acrescenta também novidades na transmissão da doença. Nas orientações disponibilizadas nesta terça-feira, adianta que a transmissão entre humanos se verifica através do contacto próximo com uma pessoa infectada ou pelo contacto com objectos contaminados por uma pessoa infectada ou pelo contacto directo com as lesões provocadas pela doença sem a protecção adequada.

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