Indústria do tabaco tem um impacto “desastroso” no ambiente, diz OMS

Indústria do tabaco é responsável pela perda de 600 milhões de árvores, a cultura do tabaco usa 200 mil hectares de terra e 22 biliões de toneladas de água por ano e emite cerca de 84 milhões de toneladas de CO2.

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Paulo Pimenta

A indústria do tabaco tem um impacto na saúde pública mas também causa danos ambientais consideráveis, com as grandes quantidades de poluição e emissões a contribuírem para as alterações climáticas, alertou esta terça-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS).

“É um dos maiores poluidores que conhecemos”, salientou o Departamento de Promoção da Saúde da OMS, Rüdiger Krech, na análise a um relatório com conclusões “bastante desastrosas” sobre a indústria do tabaco.

O documento, divulgado no Dia Mundial sem Tabaco, é intitulado “Tabaco, veneno para o nosso planeta” e analisa a pegada ambiental do sector como um todo, desde o cultivo das plantas até ao fabrico dos produtos do tabaco, passando pelo consumo e desperdício.

Enquanto a indústria é responsável pela perda de 600 milhões de árvores, a cultura do tabaco usa 200 mil hectares de terra e 22 biliões de toneladas de água por ano e emite cerca de 84 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), segundo o relatório.

“Os produtos do tabaco, que são o lixo mais atirado para o chão no planeta, contêm mais de 7000 compostos químicos que, uma vez descartados, espalham-se no meio ambiente”, sublinhou Rüdiger Krech, em declarações à agência de notícias France-Presse (AFP).

Cada uma das 4,5 biliões de pontas de cigarro que, por ano, vão parar à natureza pode poluir até 100 litros de água, realça.

Agricultores consomem o equivalente a 50 cigarros por dia

Os perigos do tabaco para a saúde não se limitam ao consumo e ao desperdício: quase um quarto dos produtores de tabaco sofre da doença do tabaco verde, uma forma de envenenamento por nicotina através da pele.

Em contacto constante com as folhas do tabaco, esses agricultores consomem o equivalente à nicotina contida em 50 cigarros por dia, explica ainda Krech, que destaca que o sector emprega um grande número de crianças. “Imaginem uma criança de 12 anos exposta a 50 cigarros por dia”, alerta.

De acordo com o relatório, o tabaco é frequentemente cultivado em países bastante pobres, onde a água e as terras cultivadas são muitas vezes escassas e onde essas culturas substituem a produção de alimentos crucial.

O cultivo do tabaco também é responsável por cerca de 5% do desmatamento mundial e contribui para o esgotamento das preciosas reservas de água.

Uma parcela significativa das emissões globais de gases de efeito estufa também vem do processamento e transporte de tabaco — o equivalente a um quinto da pegada de carbono das viagens aéreas.

A OMS também alerta para os produtos derivados do tabaco — como os cigarros electrónicos — que contribuem significativamente para a acumulação de poluição plástica no mundo.

Os filtros de cigarro contêm vestígios de microplásticos, pequenos fragmentos encontrados nos oceanos de todo o mundo, inclusive no fundo da fossa das Marianas, no Pacífico e a mais profunda do mundo, o que torna estes a segunda maior fonte de poluição plástica do mundo.

Ao contrário do que afirma a indústria do tabaco, não há, no entanto, provas de que estes filtros tenham um efeito benéfico para a saúde, sublinha a OMS.

A agência da ONU insta, desta forma, os políticos em todo o mundo a tratarem estes filtros como plásticos de uso único e a considerar a sua proibição.

A OMS também lamenta que os custos gigantescos com a limpeza dos resíduos da indústria do tabaco sejam arcados pelos contribuintes em todo o mundo.

De acordo com o relatório, a China gasta cerca de 2600 milhões de dólares (cerca de 2400 milhões de euros) anualmente para tratar resíduos de produtos de tabaco.

A Índia gasta 766 milhões de dólares (cerca de 710 milhões de euros), enquanto o Brasil e a Alemanha pagam 200 milhões de dólares (cerca 185 milhões de euros) cada.

A OMS insiste também que mais países sigam o exemplo da França e da Espanha, adoptando o princípio do poluidor-pagador.

Para Rüdiger Krech, é importante que “a indústria realmente pague pelos danos que está a causar”.