A inovação do Big Data e os limites da privacidade. Estaremos seguros?

O PSuperior colocou alunos, professores, advogados e profissionais de cibersegurança a discutir a gestão e a protecção de dados individuais em mais uma edição do PSuperior Talks.

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O painel de oradores incluiu a advogada da área de Protecção de Dados, Maria de Lurdes Gonçalves, o professor do Instituto Superior Técnico, Mário Figueiredo, o Head of Cybersecurity da NTT DATA Portugal, Mauro Almeida, o estudante de Engenharia e Ciência de Dados, José Pombal, além da moderadora Karla Pequenino, jornalista do PÚBLICO Nuno Ferreira Santos
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O painel de oradores incluiu a advogada da área de Protecção de Dados, Maria de Lurdes Gonçalves, o professor do Instituto Superior Técnico, Mário Figueiredo, o Head of Cybersecurity da NTT DATA Portugal, Mauro Almeida, o estudante de Engenharia e Ciência de Dados, José Pombal, além da moderadora Karla Pequenino, jornalista do PÚBLICO Nuno Ferreira Santos

Toda acção gera uma reacção, assim como todo clique gera uma transacção de dados. Na prática, essa transmissão constante de informações é fonte de uma das indústrias mais valiosas actualmente. Defendida por uns, renunciada por outros, a protecção de informação tornou-se um dos desafios mais urgentes na sociedade contemporânea.

“A inovação do Big Data e os limites da privacidade. Estaremos seguros?” foi a pergunta de partida para o debate da terceira série do PSuperior Talks, desta vez em parceria com a empresa tecnológica NTT DATA e com Instituto Superior Técnico.

O director do PÚBLICO, Manuel Carvalho, que caracterizou o tema como uma “das grandes questões do nosso tempo”, deu início à discussão. O painel de oradores incluiu a advogada da área de Protecção de Dados, Maria de Lurdes Gonçalves, o professor do Instituto Superior Técnico, Mário Figueiredo, o Head of Cybersecurity da NTT DATA Portugal, Mauro Almeida, o estudante de Engenharia e Ciência de Dados, José Pombal, além da moderadora Karla Pequenino, jornalista do PÚBLICO que escreve regularmente sobre estas áreas.

“Os dados são o novo petróleo”

Num tempo em que “vivemos uma economia digital”, os dados são uma moeda de transacção tão valiosa que é habitualmente comparado com o petróleo. Sobre isso, Mauro Almeida aponta que diferentemente do petróleo, as informações são infinitas, pois a partir de deles é possível “correlacionar dados, gerar outro tipo de informação, tratá-los com novos dados, e isto acaba por gerar nova informação, e acabamos por entrar num círculo virtuoso”.

Mário Figueiredo reitera que “o valor mudou do acesso à informação para a procura e curadoria”. Já Maria de Lurdes Gonçalves afirma que “todos nós temos um valor em dados para as empresas e para as organizações” pois basta analisar “as grandes organizações tecnológicas, que tratam dos nossos dados” em todas as nossas actividades digitais do dia-a-dia.

Para controlar essa questão, a advogada explica que a legislação vai “regular a forma como uma base de dados pode ser licitamente construída”, que visa garantir não só maior controlo dos dados pelos seus titulares, mas também uma maior qualidade das informações recolhidas.

A luta pela protecção

“A preocupação com a privacidade e com a protecção dos dados não nasceu” agora, sublinha Maria de Lurdes Gonçalves. Mas, apesar de já existirem regras para a salvaguarda das informações, “muitas organizações optavam por não se preocupar em cumprir essas obrigações”. Assim, foi necessário “forçar uma mudança”.

“De alguma forma, o ciclo tem sido primeiro do reforço legislativo, que força a mudança de paradigma, o cumprimento das obrigações que a lei prevê”, comenta. “Num segundo momento, [há] a sensibilização e a mudança dos comportamentos”

Para o professor Mário Figueiredo, essa sensibilização deve começar na academia e faz-se essencial entre futuros profissionais desta área, realçando que é importante que os alunos sejam alertados para essas questões e não somente “para os aspectos técnicos”.

Há quatro anos entrou em vigor o Regulamento Geral sobre a Procteção de Dados (RGPD) com a missão proteger a privacidade dos cidadãos. Mas, se por um lado, o RGPD contribuiu para a harmonização da defesa da informação na União Europeia, por outro, houve “uma desigual implementação” nos países, como assinala a advogada.

Uma via de mão dupla

O Head of Cybersecurity explica que “é altamente interessante conseguir traçar o perfil do consumidor” e definir a quem que é ideal “fazer chegar um determinado produto”. Contudo, Mauro Almeida aponta que a recolha de informação também é conveniente para o utilizador que é recompensado pelo “conforto”. “Num site de compras, se me apresentarem logo um conjunto de produtos que para mim tem maior relevância, eu provavelmente vou privilegiar esse site em detrimento de outro”.

No entanto, o estudante de Engenharia e Ciência de Dados, José Pombal, aponta que essa comodidade personalizada “levanta uma série de problemas éticos, como, por exemplo, na esfera da informação e da política. Se só vemos a informação que queremos ver, ficamos fechados nas nossas opiniões”.

O professor do Instituto Superior Técnico reitera ainda que a análise de informação vai muito além das empresas e organizações tecnológicas e afirma que é “indiscutível que há vantagens para toda a humanidade”. “A inteligência artificial com base em grandes volumes de dados tem permitido, está a permitir e vai revolucionar a saúde, em questões como medicina personalizada e epidemiologia muito mais sofisticada”.

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