Trump quer criar streaming com programas “cancelados”, “não-’woke’” ou que defendam direito às armas

Ainda não há data, nem preço, para a plataforma que o ex-Presidente planeia lançar para “dar uma plataforma às perspectivas conservadoras e/ou libertárias” mas que diz que não vai “forçar algum tipo de ideologia política em particular”.

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Donald Trump, na sexta-feira, numa convenção da NRA SHANNON STAPLETON/Reuters

Depois de sofrer uma pesada derrota nas eleições primárias na Georgia e de ter pedido, no rescaldo do tiroteio de Uvalde que matou 19 crianças e duas professoras, que se “armem os cidadãos”, Donald Trump é notícia neste final de semana porque se ficou a saber mais sobre o que quer para o seu ainda apenas projectado serviço de streaming. “Programas cancelados”, ou seja, retirados do ar de outras plataformas por questões sociais sensíveis, “programas que apoiem a Segunda Emenda [da Constituição Americana, que define o direito às armas]” e, no geral, conteúdos “não-‘woke’”, além de “programação específica de Trump”, como programas religiosos e “comédia sobre a classe trabalhadora”.

O plano de Trump é lançar um serviço de streaming por assinatura povoado por conteúdo conservador e ainda está apenas no papel — mas já procura funcionários. O seu rosto é o do Trump Media & Technology Group (TMTG) e está em curso um plano de fusão com outra empresa, tendo sido no âmbito desse negócio que foram conhecidos mais detalhes sobre os planos para os conteúdos desse canal. Direccionada à sua base eleitoral, a plataforma de streaming é identificada como TMTG+ e, de acordo com os documentos que o grupo de Trump para os media entregou ao regulador do sector nos EUA, a programação visa ser preenchida com “notícias, desporto e entretenimento não-‘woke’” — uma expressão que descreve (por vezes, quando na voz dos seus críticos, de forma mais pejorativa) a perspectiva progressista em que há preocupações com a igualdade de género e religiosa, bem como para com as pessoas LGBTQ ou de teor anti-racista, entre outras questões sociais no discurso mediático.

Querem ser “similares à Netflix, Disney+ e outras ofertas já existentes”, dizem por outro lado, “sem censurar os criadores de entretenimento” nem “forçar algum tipo de ideologia política em particular”. É uma declaração de intenções contraditória quanto à descrição específica do tipo de programação que desejam, sobretudo quando no documento se afirma um molde político muito específico.

“TMTG+ vai dar uma plataforma às perspectivas conservadoras e/ou libertárias e a conteúdos cancelados de outros canais lineares ou de plataformas de streaming”, explicam no mesmo documento que deu entrada sexta-feira na Securities and Exchange Commission , supervisora do mercado norte-americano. À operação de um grupo que, para já, tem apenas uma dívida de cerca de 100 milhões de euros, junta-se ainda uma rede de podcasts. Paralelamente, o mesmo TMTG lançou a rede social Truth Social, uma resposta do ex-Presidente dos EUA ao Twitter, de onde foi banido em 2021.

Donald Trump, que se apresenta como milionário, empresário e ex-Presidente dos EUA, ascendeu à verdadeira ribalta no século XXI na televisão, sobretudo com a apresentação de um concurso, The Apprentice, que moldou a imagem que alguns norte-americanos têm de si. O papel que a cobertura febril dos canais noticiosos fizeram da sua campanha eleitoral em 2015 e 2016, repleta de frases provocatórias, posições-choque e uma permanente atmosfera bélica, foi um dos elementos centrais da sua vitória nas presidenciais norte-americanas para encontrar o 45.º ocupante da Casa Branca.

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