Padrão colocado por Diogo Cão no Cabo da Cruz vai ser devolvido à Namíbia em breve
Alemanha entregou na sexta-feira 23 artefactos ao Museu Nacional da Namíbia e prevê concretizar intenção de devolver padrão português após anúncio inicial de 2019.
O padrão colocado pelo navegador português Diogo Cão no Cabo da Cruz (também conhecido como Cabo da Serra) em 1486 no que actualmente é a costa central da Namíbia vai ser devolvido em breve ao país, prometeu novamente esta semana a ministra alemã da Cultura, Monika Gruetters. O anúncio desta devolução, parte de um processo de reparação dos danos coloniais da própria Alemanha, já tinha sido feito em 2019 e foi reiterado quando na sexta-feira 23 artefactos que estavam no Museu de Etnografia de Berlim foram entregues ao Museu Nacional da Namíbia.
Em 2019, a tutela da Cultura alemã anunciou a devolução do padrão português à Namíbia como parte do processo de reconciliação com a antiga colónia alemã onde também os portugueses deixaram a sua marca há mais de 500 anos. “A devolução do padrão sinaliza claramente o reconhecimento da necessidade de reavaliar o nosso passado colonial e trabalhar em conjunto com os países de origem dos objectos coloniais para que possamos encontrar formas construtivas de compromisso e respeito uns pelos outros”, disse na altura Monika Gruetters.
Esta semana, a ministra é novamente citada pela agência de notícias francesa AFP com um discurso tirado a papel químico sobre a devolução da cruz de mais de três metros de altura e que pesa mais de uma tonelada, e que a agência, citada pelo diário francês Le Figaro, diz ter sido feito no Deutsches Historisches Museum esta semana.
O padrão de calcário, encimado por uma cruz com as armas da coroa portuguesa, foi colocado por Diogo Cão, em 1486, e visava reclamar a sua posse por Portugal mas também servir de ponto de orientação. Foi ele que deu à zona o nome de Cabo da Cruz, como recordava a agência Lusa em 2019. Depois, quando aquela zona integrava o império colonial alemão, o padrão foi trazido para a Europa e para o Museu de História de Berlim, onde está exposto desde 2006 até hoje. A AFP indica que não foi precisada a data de restituição, mas diz que deve voltar ao seu lugar de origem “em breve”.
Na sexta-feira, chegaram já ao Museu Nacional da Namíbia as 23 jóias, lanças, vestuário tradicional e outras peças como parte deste processo de restituição, que também inclui a devolução dos famosos bronzes do Benim. Segundo a emissora Deutsche Welle, há versões contraditórias sobre se se tratou de facto de uma devolução, com depósito permanente no museu namibiano, ou se, como disse a Fundação do Património da Prússia, responsável pelo museu alemão, se tratou de um empréstimo a longo prazo dos artefactos que, segundo os media alemães, não envolve expectativas de que os objectos voltem à Alemanha.
O Museu de Etnografia de Berlim diz estar há três anos em diálogo com os seus congéneres na Namíbia sobre a restituição de centenas de objectos da região que ainda pertencem à sua colecção. É um capítulo “da história longa e complexa que a Namíbia e os alemães têm”, constata a directora do museu namibiano, Esther Moombolah, citada pela imprensa após declarações proferidas em Berlim.