Alunos da Madeira usam manuais digitais de forma mais intensa que os colegas do continente
Estudantes envolvidos no projecto-piloto do continente apenas recorrem aos recursos online durante o tempo de aulas. Os dados de utilização da plataforma Escola Virtual, que agrega manuais escolares das diferentes editoras, mostram região autónoma “na vanguarda” da transição digital, segundo a Porto Editora.
Os estudantes da Madeira que já fizeram a transição para os manuais em formato digital fazem uma utilização mais intensa e regular dos recursos digitais do que os seus colegas do continente que estão envolvidos no projecto-piloto de desmaterialização dos livros escolares. As conclusões são da plataforma Escola Virtual, que agrega dados das diferentes editoras. A região autónoma está “na vanguarda” porque começou mais cedo o processo e não centrou atenções apenas nos equipamentos, defende responsável da Porto Editora, que gere o projecto.
Estes dados foram tornados públicos nesta sexta-feira, num debate sobre a transição digital nos ensinos básico e secundário, que acontece no Funchal até sábado. Segundo a Escola Virtual, 84% dos seus utilizadores madeirenses acedem à plataforma “mais de 40 dias” ao longo do ano lectivo. Já entre as escolas envolvidas no projecto-piloto de desmaterialização dos manuais no continente, só 61% dos estudantes fazem um uso semelhante, ao passo que um quarto deles entra na plataforma entre 11 e 40 vezes ao longo do ano.
Estes números dizem respeito ao ano lectivo em curso. A Porto Editora, responsável pela Escola Virtual, não faz comparações com anos anteriores, devido ao impacto na pandemia – que fez multiplicar por seis o número de utilizadores da plataforma no período do primeiro confinamento. A Escola Virtual é a plataforma base que é fornecida a todas as escolas envolvidas nos projectos de desmaterialização dos manuais escolares. No entanto, cada estabelecimento de ensino mantém total autonomia para adoptar o manual que entender, de qualquer umas das editoras, à semelhança do que acontece com os livros em papel.
A Madeira está “na vanguarda” da transição digital nas escolas, avalia Rui Pacheco, que dirige a Escola Virtual, justificando estes resultados com “as condições que foram criadas [pelo Governo regional] para que o projecto funcionasse como um todo”. Os equipamentos cedidos aos alunos são todos iguais e geridos centralmente, do ponto de vista da segurança e da gestão do software. Também foi criada a figura do coordenador do projecto em cada escola, a quem foram atribuídas horas de trabalho específicas, exemplifica o mesmo responsável.
“Se somarmos a isto uma maior experiência, porque a Madeira começou um ano mais cedo, há uma melhor integração com os dispositivos”, acrescenta Pacheco. A transição digital na Região Autónoma da Madeira foi iniciada em 2019/20, envolvendo todos os alunos do 5.º ano que, a partir desse ano lectivo, passaram a usar apenas manuais digitais. Nos dois anos seguintes, o programa foi alargado aos 6.º e 7.º anos. Neste momento, estão abrangidos cerca de 7000 estudantes de todas as 24 escolas madeirenses. No próximo ano, prevê-se que sejam 10 mil os alunos a usar manuais digitais, com o alargamento ao 8.º ano e às primeiras turmas do ensino secundário.
Envolvidos 24 agrupamentos
No continente, o projecto-piloto dos manuais digitais envolve actualmente 24 agrupamentos de escolas e 3700 alunos, do 3.º ao 11.º anos. No próximo ano lectivo, a iniciativa contará com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência e pretende envolver cerca de 5000 estudantes. O alargamento será feito a dois níveis, informa o Ministério da Educação: os 24 agrupamentos já envolvidos vão aumentar o número de anos de escolaridade participantes e 20 novas escolas passarão a integrar a iniciativa.
Outro dado da Escola Virtual que reforça estas conclusões prende-se com os padrões de utilização da plataforma que é, na Madeira, “muito mais equilibrado”. Os alunos da região autónoma acedem aos conteúdos digitais “ao longo de todo o dia e quase todos os dias”, desde as 9h00 quase até às 23h00, incluindo sábados e domingos, segundo Rui Pacheco. No continente, há uma “concentração muito maior nos períodos em que os alunos estão em contexto escolar”.
“Todos os dados conduzem a uma conclusão: existindo uma maior apropriação das ferramentas, quer do lado dos professores, quer do dos alunos, há uma maior utilização” dos recursos digitais, conduzindo a “uma maior diversificação das práticas pedagógicas”, diz ainda Rui Pacheco. “É exactamente isso que se pretende com a transição digital: assegurar que as escolas e os professores adoptam práticas pedagógicas mais activas e diversificam as suas estratégias de ensino-aprendizagem”, conclui.