OMS sobre varíola-dos-macacos: “Estamos ainda no início deste surto”
A Organização Mundial de Saúde defende que não há necessidade de preocupação para a população, nem de vacinação em massa. Ainda assim, advertem que teremos um aumento de casos nos próximos dias.
“Estamos ainda no início do surto”. A frase é de Sylvie Briand, directora da Organização Mundial da Saúde para as Doenças Pandémicas e Epidémicas, na abertura do resumo técnico sobre a varíola dos macacos (também conhecida como vírus monkeypox, ou VMPX) apresentado esta sexta-feira, numa sessão da Assembleia Mundial de Saúde. “Temos receio que se transmita em comunidade. Mas estamos a tentar aumentar a consciencialização e temos uma boa oportunidade de parar a transmissão agora”, apontou Briand.
A apresentação ficou a cargo da médica francesa, que alertou para o período de tempo desde a comunicação do primeiro caso: “apenas passaram três semanas”. O primeiro caso foi confirmado no Reino Unido a 7 de Maio - esta sexta-feira ultrapassaram os 100 casos. Briand avisa que “vamos ter mais casos nos próximos dias”. Apesar de o primeiro caso ter sido comunicado no dia 7 de Maio, o vírus pode estar a circular na Europa pelo menos desde o início de Março.
Na sessão da manhã desta sexta-feira, continuaram a sobressair “muitas questões sobre a doença”, como admitiu Sylvie Briand. Esta sexta-feira já tinham sido confirmados mais de 300 casos de infecção por VMPX em países não endémicos, a maioria dos quais registados na Europa. Portugal é o terceiro país com mais pessoas infectadas, atrás de Reino Unido e Espanha.
Investigar, rastrear e isolar. E vacinar?
A vacinação foi um dos temas mais questionados nesta sessão. A responsável técnica para o VMPX da Organização Mundial de Saúde (OMS), Rosamund Lewis, defendeu que o foco deve ser a “investigação dos casos, rastreio dos contactos e o isolamento em casa”. A pouca disponibilidade das vacinas de terceira geração é um dos motivos apontados. A vacinação em massa também foi descartada, à imagem do que já tinham dito outros especialistas – a maioria recomendando apenas a vacinação de contactos de risco e profissionais de saúde.
Em relação à administração de vacinas contra a varíola humana, a responsável foi clara: “não há recomendação para uma vacina da varíola em casos de VMPX”. Ainda assim, acrescentou que “quem tem reservas terá de discutir internamente a administração”, reafirmando a disponibilidade da Organização Mundial da Saúde para fornecer aconselhamento.
Rosamund Lewis deixou ainda o conselho para se recomendar que as pessoas não recorram directamente às urgências, antes de contactar um serviço de saúde.
A “prioridade principal é conter a transmissão, consciencializar, detectar casos e travar as cadeias de contágio”. Briand aponta que são estas medidas de contenção que permitirão extinguir estes surtos. Pelo meio, deixou ainda uma mensagem para que seja evitado o pânico e a estigmatização a partir da varíola-dos-macacos.
A responsável da OMS deixou ainda alertas para a necessidade de reforçar a informação à população, avisando para a necessidade de evitar contacto próximo, cobrir as lesões até à queda da crosta e desinfectar todas as superfícies contaminadas. “Esta não é uma doença para a qual a população precise de estar alarmada. Recomendamos que não se crie ansiedade, é mais importante consciencializar e deixar o alerta para o que temos e o que é a doença”, apontou, reforçando ainda que não defendem restrições nas viagens.
Mais de 300 casos
Esta sexta-feira, já foram ultrapassados os 300 casos de varíola-dos-macacos (também conhecida como vírus monkeypox, ou VMPX) em todo o mundo, com a esmagadora maioria localizada no continente europeu. Reino Unido, Espanha e Portugal são os países mais afectados.
Na América do Norte, apesar do aumento de casos nos Estados Unidos (tem agora nove), é o Canadá que apresenta maiores preocupações, com 26 pessoas infectadas – entre as quais um jovem com menos de 18 anos. O caso foi registado numa escola no Quebec, região que comporta 25 dos 26 casos confirmados no país.
As autoridades de saúde pública locais confirmaram este caso, com Caroline Quach, presidente do comité de imunização do Quebec, a afirmar que não é motivo de alerta. Dado o contacto próximo que é necessário para a transmissão, não houve outras medidas para a restante turma: “não é como se toda a turma seria de repente afectada”, referiu. O menor identificado está isolado, mas a restante turma mantém-se em aulas.
É importante recordar que a vacina de terceira geração, a Imvanex (nomeada Jynneos nos Estados Unidos), foi testada apenas em adultos, sendo que a segurança e a eficácia da administração desta vacina em menores não está comprovada.