Generais da reserva admitem serviço militar obrigatório e recrutamento de estrangeiros dos PALOP

Querem também debater o modelo de Forças Armadas que o país está disposto a assumir.

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Generais na reserva querem reflexão para pensar o futuro das Forças Armadas José Sena Goulão

Os generais do Grupo de Reflexão Estratégica Independente (GREI), que integra oficiais generais na reforma, entre os quais ex-chefes do Exército, Força Aérea e Marinha, querem promover um debate” sobre o serviço militar em Portugal. A começar pela regresso à obrigatoriedade ou a manutenção do actual regime de voluntariado, obrigatório ou voluntário, com uma componente armada e outra não armada, mais prolongado e mais profissionalizado, mas que possa inverter a actual situação das Forças Armadas quanto às dificuldades de recrutamento: “

A admissão a fileiras de cidadãos estrangeiros, como já fizeram outros países com idênticas dificuldades de captarem vocações militares, ou de cidadãos dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP"s) à semelhança do que fez a Espanha com oriundos da comunidade ibero-americana) é uma das questões também em discussão.

“Estamos a bater no fundo, não há voluntários, estamos num ponto de degradação militar que implica uma reflexão sobre o papel das Forças Armadas e que Forças Armadas queremos ter”, disse esta terça-feira, ao PÚBLICO, o almirante Melo Gomes, ex-chefe do Estado-Maior da Armada, e presidente da Assembleia Geral do GREI.

O documento de reflexão com 257 páginas intitulado As Forças Armadas e o seu enquadramento estratégico e funcional, foi enviado esta segunda-feira ao Presidente da República, primeiro-ministro, ministra da Defesa Nacional, comissão parlamentar de Defesa Nacional e partidos políticos com assento parlamentar e pretende ser uma reflexão perante a actual situação.

“Numa opção que o país tomasse, no caminho de um modelo exclusivo de serviço militar voluntário, temporário ou de longa duração (profissional), faria sentido equacionar a aceitação de candidatos de nacionalidade estrangeira para a prestação de serviço, como já acontece nalguns países da Europa, casos da Espanha e da Bélgica", asseguram na sua reflexão.

Estes oficiais lembram que “hoje, é amplamente reconhecido o gap demográfico que se faz sentir, de forma continuada, no nosso País, um tanto à semelhança do que se passa no mundo ocidental” e, “por outro lado, assiste-se a uma crescente pressão por parte dos migrantes provenientes de outras regiões para entrarem no espaço europeu”.

Após a invasão da Ucrânia, pela Rússia, em 24 de Fevereiro, os generais sublinham que “tem vindo a assistir-se a significativas modificações nos quadros geopolíticos e estratégicos mundiais, que deram lugar e têm obrigado, por sua vez, a uma reflexão aprofundada sobre que modelos seguir no recrutamento e na prestação de serviço na componente armada dos espaços políticos e das nações soberanas”.

“Temos de alertar a opinião pública para esta realidade, há um desfasamento entre o que a opinião pública pensa e o que se faz”, apela Melo Gomes. Recorda-se que os oficiais generais do GREI foram particularmente críticos com a gestão dos ministros da Defesa Nacional, Aguiar-Branco com o programa 2020, e Gomes Cravinho, e que não apoiaram a reforma da LOBOFA [Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas] por ele lançada e já em vigor, depois de ter sido promulgada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Durante o debate parlamentar sobre o Orçamento de Estado para Defesa, a nova titular da Defesa Nacional, Helena Carreiras, colocada perante um eventual regresso do serviço militar obrigatório descartou essa possibilidade nos termos em que ele existiu. No entanto, admitiu discutir modalidades de envolvimento dos jovens com a Defesa.

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