Paris acolhe diálogo de sombras entre Pedro Costa, Rui Chafes e Paulo Nozolino

Exposição com filmes de Pedro Costa, fotografias de Paulo Nozolino e esculturas de Rui Chafes abre em Junho no Centro Pompidou. O Resto É Sombra estará rodeada de uma série de outros eventos sobre os três artistas portugueses

Foto
Exposição no Museu de Serralves em 2018 com obras de Pedro Costa e Rui Chafes NELSON GARRIDO

Pedro Costa, Rui Chafes e Paulo Nozolino vão expor juntos a partir de Junho no Centro Pompidou, em Paris, mas haverá ainda outros eventos paralelos em torno destes artistas, nomeadamente um livro do filósofo Jacques Rancière.

O Resto É Sombra, que inaugura a 7 de Junho, é uma exposição colectiva que coloca em diálogo trabalhos daqueles três artistas portugueses, com projecção de filmes de Pedro Costa, fotografias de Paulo Nozolino e esculturas de Rui Chafes.

À agência Lusa, Pedro Costa explicou que a exposição é uma nova colaboração criativa entre os três autores, depois de o realizador ter exposto em 2018 no Museu de Serralves, no Porto, contrapondo a sua obra à de artistas convidados. Além de Chafes e Nozolino, a exposição contava com obras de autores como Jorge Queiroz, Robert Bresson, António Reis e Chantal Akerman.

Pouco depois dessa exposição no Porto, Pedro Costa teve carta branca para estar no Centro Pompidou, “à boleia” dos vinte anos da estreia do filme O Quarto da Vanda (2000).

“Não me apetecia fazer eu sozinho uma coisa. Liguei ao Paulo e ao Rui e propus-lhes virem fazer isto comigo. Isto cresceu, foi logo aceite pelas pessoas do Pompidou. Quis que isto fosse a três”, sublinhou.

A exposição O Resto É Sombra já deveria ter sido inaugurada, mas a pandemia da covid-19 alterou o calendário e só este ano é que se concretiza, associando-se agora à Temporada Cruzada Portugal-França.

Este tempo de espera entre o convite e a inauguração permitiu-lhes estender a reflexão sobre aquilo que cada um queria ver exposto no Pompidou, numa curadoria de Philippe-Alain Michaud e Jonathan Puthier, com uma cenografia “muito trabalhada, labiríntica” a percorrer a obra dos três artistas.

Descrita pelo Centro Pompidou como uma “apresentação imersiva”, a exposição apresenta as obras As Filhas do Fogo (2019) e Minino Macho, Minino Fêmea (2005), de Pedro Costa, a série de esculturas As Tuas Mãos (1985-2015), de Rui Chafes, e Untitled, 2008-2010-2002, de Paulo Nozolino.

“Eu e o Paulo trabalhamos com imagem e há coisas que são logo muito óbvias; uma realidade mais tangível, uma realidade que está nas fotografias do Paulo e nos meus filmes, que é realista, no sentido em que fotografamos o que vimos, que é real, do que nos rodeia. Há uma ideia do que a fotografia e o cinema são duas artes que estão sempre em risco, que têm uma antiguidade, apesar de tudo muito frágil. São antigas e recentes e estão um bocado perdidas nesta época de imagem, de virtualidade. O Rui está um bocadinho à parte disto, é escultura”, sendo proposto igualmente um diálogo, afirmou Pedro Costa à Lusa.

Quem passar pelo Pompidou, um dos mais visitados espaços culturais da capital francesa, verá nesta exposição um título-âncora, retirado de um poema de Fernando Pessoa.

“Foi pela palavra sombra, que é uma coisa que passa por nós todos. No meu caso, até diria que a palavra resto é importante. O que se vê nos meus filmes é muito restos de coisas, restos de casas, de coisas, quase lixo, restos de pessoas, mesmo”, disse.

O Resto é Sombra, de Pedro Costa (1959), Rui Chafes (1966) e Paulo Nozolino (1955), ficará patente na galeria 4 do Centro Pompidou de 7 de Junho a 22 de Agosto.

Esta exposição estará rodeada de uma série de outros eventos culturais sobre os três artistas portugueses.

Paulo Nozolino, que viveu mais de uma década em Paris, onde expõe com regularidade - nomeadamente em 2002 numa exposição antológica -, irá ter uma mostra individualmente na galeria L'Entrepôt.

Rui Chafes verá editado em França a obra Diários, que reúne 30 anos de desenhos, feitos em vários países, papéis e materiais - nos quais se destacam as cores vivas, por contraste com as esculturas negras -, com chancela da editora Pierre von Kleist.

Pedro Costa terá uma retrospectiva, de 14 a 26 de Junho, no espaço cultural Jeu de Paume e fará a estreia francesa, a 15 de junho, do filme Cavalo Dinheiro, que lhe valeu em 2014 o prémio de melhor realizador no festival de Locarno.

Está ainda prevista a edição de dois livros de ensaios sobre o cinema do realizador português: Le chambres du cinéaste, com cinco textos do filósofo francês Jacques Rancière, e Pedro Costa - Cinéaste de la lisière, do investigador francês Antony Fiant.