Porque é crucial para a ofensiva russa a cidade de Severodonetsk, no Leste da Ucrânia?
Desesperadas por uma vitória, as tropas russas estão a recorrer à táctica da “terra queimada” para tentar conquistar a cidade de Severodonetsk. Os bombardeamentos constantes arriscam-se a tornar a cidade “uma nova Mariupol”, alertam responsáveis ucranianos.
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A batalha por Severodonetsk, uma das últimas grandes cidades que ainda estão em mãos ucranianas em Lugansk, no Leste da Ucrânia, está a tornar-se um ponto crucial na guerra da Rússia.
Segundo o governador da região de Lugansk, as tropas russas estão a usar a táctica da “terra queimada” em Severodonetsk, bombardeando a área constantemente. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já advertiu que os combates nesta região do país estão a ficar cada vez mais sangrentos, morrendo todos os dias até 100 soldados ucranianos.
Com a cidade portuária de Mariupol conquistada, as tropas russas estão a tentar cercar Severodonetsk, que, antes da guerra, tinha uma população de cerca de 100 mil habitantes. Moscovo está a tentar ganhar o controlo da região do Donbass, que inclui Donetsk e Lugansk.
As forças russas estão “a usar tudo o que têm nesse sentido”, afirma Matthew Schmidt, professor auxiliar de Segurança Nacional e Ciência Política na Universidade de New Haven (EUA). Depois de terem falhado outros objectivos importantes, continua, “estão concentrados nestas batalhas tácticas”.
Segundo Schmidt, Moscovo tem tido pouca eficácia em combate, com grandes perdas ao nível dos comandos das unidades, acabando por formar “grupos-Frankenstein”, compostos por tropas de diferentes unidades. Muitos deles estão exaustos.
As forças russas “precisam de uma vitória”, afirma Schmidt. E, uma vez que não parecem ter oficiais capazes de liderar ofensivas eficazes contra a Ucrânia, estão a optar por esmagar os ucranianos com bombardeamentos, para assim tentar chegar à vitória em Severodonetsk. Mas esta forma como os russos estão a “abrir caminho” pode ter consequências desastrosas para os civis, como aconteceu em Mariupol, avisa o professor. “Eles estão simplesmente a esmagar os ucranianos com artilharia.”
As tropas russas estão a concentrar esforços em “apagar Severodonetsk da face da terra”, o que inclui dispararem contra os edifícios enquanto se movem pelas ruas da cidade, acusou o governador regional de Lugansk, Serhii Haidai, este fim-de-semana. O Washington Post não conseguiu verificar estas alegações de forma independente.
“Todos os dias [as tropas russas] têm tentado quebrar a linha de defesa”, disse Haidai numa entrevista à imprensa ucraniana que depois publicou no Telegram, no domingo. “Há bombardeamentos 24 horas por dia e o Exército russo escolheu, infelizmente, a táctica da terra queimada contra a cidade de Severodonetsk: eles estão simplesmente a destruir a cidade de forma sistemática. Em todo o lado há bombardeamentos, constantemente.”
A provedora de Justiça ucraniana, Liudmila Denisova, por seu lado, denunciou que a cidade se está a tornar “uma nova Mariupol”.
As tropas russas destruíram uma ponte para Severodonetsk no sábado, sendo agora mais complicado retirar as pessoas e abastecer a cidade. “Se destruírem mais uma ponte, então a cidade ficará, infelizmente, totalmente isolada”, declarou Haidai, no domingo. Cerca de 10 mil pessoas permanecem em Severodonetsk — cerca de um décimo da sua população antes da guerra —, e a maioria “está praticamente sempre em abrigos subterrâneos”, acrescentou.
Para as forças de Moscovo, continua Schmidt, está muito em causa: uma perda seria “devastadora para o moral e posição estratégica”. Mesmo no caso de uma vitória, o número elevado de baixas e as perdas de equipamento podem sair-lhes caras. Enquanto isso, as forças ucranianas podem recuar para uma posição segura a partir da qual poderão continuar a exercer pressão sobre a Rússia, explica.
À pergunta de um jornalista do Canal 24, no domingo, sobre se as tropas russas “acalmariam caso o seu ataque a Severodonetsk fosse bem-sucedido”, a resposta de Haidai foi clara: “Não, claro que não. O Exército russo só se acalmará quando for acalmado, o que significa que só pararão onde forem parados”.
Um exclusivo PÚBLICO/The Washington Post