Iraque adia julgamento de dois turistas europeus suspeitos de tráfico de antiguidades
O processo acontece numa altura em que proliferam as pilhagens e as transacções ilegais de património cultural na região do Médio Oriente.
Um tribunal penal de Bagdad decidiu adiar para 6 de Junho o julgamento de dois turistas europeus, um britânico e um alemão, que a 22 de Maio foram presos no aeroporto da capital iraquiana por suspeitas de tráfico de antiguidades. Segundo o jornal francês Le Figaro e a Agence France-Press (AFP), os responsáveis pelo processo chegaram à conclusão de que precisavam de mais tempo para “analisar um pedido de investigação adicional” interposto pelo advogado iraquiano de Volker Waldmann, o acusado alemão.
“Alguns aspectos relevantes não foram examinados durante o inquérito inicial”, disse o advogado, Maître Furat Kuba, à AFP. “Não temos uma série de detalhes: de que sítios provêm estas peças? A que época, a que civilização dizem respeito?”, especificou, citando um comunicado do comité de especialistas que se debruçou sobre as antiguidades encontradas nas bagagens dos dois turistas, entre as quais constavam tabuletas cuneiformes, esculturas, fragmentos de cerâmica e outros “vestígios valiosos” originários da Suméria e da Babilónia, antigas civilizações da Mesopotâmia. Concretamente sobre os locais de onde terão sido pilhadas estas peças, o advogado questiona ainda se estes estariam “encerrados e protegidos” e se haveria “sinalização a indicar que se trata de peças interditas de serem recolhidas”.
James Fitton, geólogo britânico reformado de 66 anos, e Volker Waldmann, psicólogo alemão de 60, foram ao Iraque numa viagem organizada e conheceram-se em excursões a pontos históricos de Bagdad. Na abertura do processo judicial, ambos disseram não ter conhecimento de que as peças em sua posse poderiam ser consideradas antiguidades.
Este julgamento acontece numa altura em que proliferam os casos de pilhagens e de transacções e escavações ilegais de bens patrimoniais devido ao cenário de guerra, mas também por causa da pandemia da covid-19, que fez aumentar exponencialmente o tráfico de bens culturais um pouco por todo o mundo, na sequência do abandono ou da diminuição da vigilância de museus, sítios arqueológicos e outros lugares de interesse patrimonial. Os países mais afectados têm sido o Iraque, o Líbano, o Afeganistão, o Iémen e a Síria – neste último, na sequência da ocupação jihadista de Palmira, o museu daquela importante cidade greco-romana já terá perdido 3500 peças.
A África subsariana e a América Latina também têm sido particularmente afectadas por estes negócios ilegais e sem fronteiras, que têm ganhado tracção através das redes sociais. Perante este contexto, a Interpol lançou uma aplicação, a ID-Art, que, além de ter como objectivo facilitar a resolução de casos de roubo de obras de arte e antiguidades, visa também encontrar novas ferramentas para combater escavações arqueológicas ilegais e para denunciar património em risco.
No que diz respeito a Portugal, a Interpol tem na sua base de dados 277 obras de arte e antiguidades roubadas em território nacional, entre as quais um Picasso, um Canaletto, uma Nossa Senhora da Ajuda furtada dos Jerónimos ou um Amadeo de Souza-Cardoso subtraído do museu com o seu nome em Amarante.