Embora seja um romance realista, e até, pela predominância de motivos rurais e provincianos e pelo rico e abundante repertório vocabular, um romance “regionalista” — atrever-nos-íamos a dizer, contra a pandemia de literatura internacional vigente —, são difusas as coordenadas geográficas e escassos os marcadores temporais da acção de A Última Curva do Caminho. E, na verdade, não fazem falta ou, talvez melhor, a sua falta como que amortece um pouco a servidão do realismo. Do protagonista e narrador, o “professor doutor escritor Nicolau Coelho”, catedrático de Estética aposentado e autor de livros de ficção “mal amanhados”, sabemos que tem 85 anos no final da narrativa e que regressou à vila onde viveu há mais de sete décadas, quando veio de África com os pais. África, onde o protagonista nasceu, é, aliás, o único topónimo, real ou fictício, em que podemos tropeçar em todo o livro. Também as datas, exceptuando talvez o ano de 1947 inscrito no verso de uma fotografia, devemos inferi-las acessoriamente pelo que nos é contado. Como quando sabemos que um trisavô do protagonista, “o Cricas” de fescenina glória, foi contemporâneo de Bocage.
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