Costa deixa aviso em Kiev: “[A Ucrânia] conhece a casa em que quer entrar”

Numa conferência de imprensa após a reunião com Zelensky, o primeiro-ministro anunciou ainda um apoio financeiro de 250 milhões de euros e disponibilizou-se para ajudar na reconstrução de uma zona geográfica da Ucrânia ou do sistema educativo.

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António Costa e Volodymyr Zelensky reuniram-se em Kiev,António Costa e Volodymyr Zelensky reuniram-se em Kiev EPA/PRESIDENTIAL PRESS SERVICE HANDOUT,EPA/PRESIDENTIAL PRESS SERVICE HANDOUT
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António Costa e Volodymyr Zelensky reuniram-se em Kiev EPA/PRESIDENTIAL PRESS SERVICE HANDOUT

António Costa esteve este sábado em Kiev oferecer vários tipos de ajuda a Volodymyr Zelensky, mas mediu bem as palavras que usou quando se referiu à adesão da Ucrânia à União Europeia (UE). O primeiro-ministro disse acolher “de braços abertos a opção clara que a Ucrânia fez pela Europa”, mas lembrou a demora dos processos de adesão à UE - o português foi de “nove anos” -, a dificuldade deste tipo de processos - “são altamente complexos” -, destacou que na Europa nem sempre todos estão de acordo - “[a Ucrânia] conhece a casa onde quer entrar” -, e que falta conhecer o relatório da Comissão Europeia sobre a apresentação da candidatura. Neste campo, disponibilizou “apoio técnico” à Ucrânia para a candidatura e, assim, cumprir a ambição de entrar para a UE.

Este foi a mensagem deixada pelo chefe do Governo português ao Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na conferência de imprensa conjunta que deram depois de uma reunião entre as duas delegações. Um dia antes, em visita a Varsóvia, Costa propunha uma alternativa: a integração da Ucrânia no mercado comum europeu. Zelensky, contudo, rejeitou esta opção e mostrou-se confiante da ajuda de Portugal, já que anunciou que a reunião com Costa permitiu clarificar que Portugal “apoia essa integração” e “o estatuto como candidato para a entrada na UE”.

Em declarações à imprensa, o líder do executivo português garantiu que “Portugal nunca tem a posição do não” e destacou apenas que a posição do país neste momento deve ser a do “vamos lá encontrar o ponto de entendimento entre os 27 estados-membros”.

Para António Costa, que reconhece que esta é uma matéria que está a causar fricções entre os países europeus, “o pior que a UE podia fazer à Ucrânia era dividir-se”, pelo que mais do que discutir a sua integração, o primeiro-ministro defende que é preciso “trabalhar para construir posições de unidade”.

Até agora, a UE disponibilizou-se para apoiar a Ucrânia a nível financeiro, material, militar e humanitário, bem como a aprofundar a relação entre Kiev e Bruxelas, mas no que toca à adesão, processo acelerado pela invasão das tropas russas, as posições entre os estados-membros divergem. Uns rejeitam a adesão de um país em guerra, como a França, e outros - como a Alemanha - defendem que a Ucrânia não deve aderir antes da conclusão dos processos dos países dos Balcãs, por exemplo.

Já a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, considerou em entrevista à agência Lusa que “não abrir a porta aos ucranianos” seria “o pior erro que a UE poderia cometer” e defendeu o apoio à pré-adesão dos ucranianos, à semelhança da Presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen.

Depois de ter afirmado que "queremos [a CE] que entrem para a União Europeia”, a líder dos 27, mostrou abertura para acelerar o processo de integração da Ucrânia, em visita a Kiev o mês passado: “Não será, como de costume, uma questão de anos para formar esta opinião”, prometeu a Zelensky, no momento em que entregou ao presidente ucraniano um questionário a partir do qual se darão as discussões sobre a entrada do país na UE.

Independentemente das divisões entre os líderes da Europa, o chefe do governo português disse este sábado que se “regozija” com a vontade da Ucrânia em querer aderir à UE e ofereceu “apoio técnico” ao processo de candidatura do país, acrescentando que aguarda “com expectativa o relatório da UE sobre a perspectiva europeia da Ucrânia e a integração na UE”, com base nesse questionário, que será discutido no Conselho Europeu em Junho.

Sem deixar de relembrar que os processos de adesão “são altamente complexos e muito difíceis”, considerou que Zelensky "conhece a casa onde quer entrar”.

O presidente da Ucrânia, por seu turno, sublinhou que a entrada na UE “será um sinal muito importante” para o povo ucraniano e rejeitou qualquer possibilidade de alternativas à adesão, como um estatuto especial de integração no mercado livre comum.

De acordo com o chefe de Estado, esta opção constituiria “uma cedência às pressões” do regime de Putin e “um compromisso com os russos”, que já prejudicaram outros países europeus, sob a dependência energética da Rússia. “Viu-se agora como não foram cumpridos esses acordos, em que situação esses países ficaram e qual a base de confiança dos compromissos com a Rússia”, argumentou Zelensky.

Costa promete apoio de 250 milhões e ajuda na reconstrução do sistema de ensino

Após a reunião, que teve por objectivo estabelecer um acordo financeiro bilateral e discutir a relação da Ucrânia com a UE, António Costa anunciou que vai disponibilizar um apoio de 250 milhões de euros à Ucrânia (100 milhões ainda este ano e 150 nos próximos três) e comprometeu-se a ajudar na reconstrução de uma zona geográfica da Ucrânia ou do sistema educativo do país, nomeadamente, das escolas e dos jardins-de-infância.

O primeiro-ministro reforçou ainda a necessidade de bloquear “todas as importações dos combustíveis provenientes da Rússia”, disponibilizando-se para “ajudar a criar opções logísticas”, como a distribuição de gás a partir do Porto de Sines.

Quanto ao apoio militar, Costa explicou que o fornecimento militar à Ucrânia “não terminou e vai continuar”, com base nos pedidos que Zelensky formulou este sábado, tendo assegurado que só não apoia o país com equipamento por falta de “disponibilidade” e não “por receio”.

O primeiro-ministro, que tutela os Assuntos Europeus, esteve de visita à Ucrânia para assinalar o apoio ao país, a convite do seu homólogo, Denys Shmygal, um mês após Zelensky ter falado no Parlamento.

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