Felizes são os anjos na Adega dos Teares Velhos

No mundo do vinho, costuma dizer-se que as caves são habitadas por anjos, romantizando o processo de evaporação. Em matéria de moscatéis, há uma cave onde, porventura, mais anjos habitam.

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A Adega dos Teares Velhos da José Maria de Fonseca guarda a maior colecção de moscatéis velhos de Portugal Marisa Cardoso

A cave de estágio de vinhos doces é, como uma loja de especiarias em Marraquexe ou outra de chás na China, uma bolsa inebriante de perfumes, que funciona como armadilha – qualquer pessoa minimamente sensível a aromas misteriosos não resiste a entrar nestes espaços.

No mundo do vinho, em Gaia, Carcavelos, Madeira ou Azeitão, costuma dizer-se que as caves são habitadas por anjos, que, pela calada da noite, vão às pipas retirar uns copitos de vinho (bebem pouco de cada vez). Esta é a forma romântica que a gente do vinho arranjou para justificar o processo natural de evaporação que ocorre ao longo do tempo. O nível de evaporação depende das condições de temperatura e humidade de cada cave, mas admite-se que as perdas anuais se situem entre os três e os cinco por cento, o que não é brincadeira e acaba por encarecer o valor do vinho porque, ao fim de muito anos, o nível no casco desceu imenso.

E em matéria de moscatéis, a cave onde habitam mais anjos é porventura a Adega dos Teares Velhos, da José Maria de Fonseca. Não só por ser aqui que está a maior colecção de moscatéis velhos do país, mas, detalhe não menos importante, pelo facto de os cantos gregorianos funcionarem como música ambiente na adega, estilo musical que era uma paixão de Fernando Soares Franco, pai de Domingos Soares Franco, actual administrador e enólogo da José Maria da Fonseca. Com bons vinhos e boa música, estes serão os anjos mais felizes da nação.


Este artigo foi publicado no n.º 3 da revista Solo.

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