Adesão à greve na administração pública acima dos 80% em hospitais e escolas, diz Frente Comum

A manifestação da Frente Comum realiza-se em Lisboa a uma semana da votação final global da proposta de Orçamento do Estado para 2022 no Parlamento. O protesto tem início pelas 14h30 do Marquês do Pombal, rumo à Assembleia da República.

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Maioria das escolas em vários pontos do país tem as portas encerradas NELSON GARRIDO

Os sectores da Saúde e da Educação são os mais afectados pela greve desta sexta-feira dos trabalhadores da administração pública, que registava às 9h uma adesão superior a 80%, com escolas encerradas e hospitais em serviços mínimos, segundo fonte sindical.

“Estes 80 a 90% de adesão naqueles dois sectores referem-se aos trabalhadores das carreiras gerais, os assistentes operacionais, assistentes técnicos e técnicos superiores. Os médicos e os enfermeiros não emitiram nenhum pré-aviso de greve”, disse à Lusa Orlando Gonçalves, do STFPSN – Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte.

A greve foi convocada pela Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública para contestar a actualização salarial de 0,9% para este ano. Uma manifestação nacional está marcada para hoje à tarde em Lisboa. “Sei que há muitos profissionais a irem em autocarros para Lisboa para a manifestação”, disse ao PÚBLICO Vítor Godinho, do secretariado nacional da Fenprof, que não faz balanços por não ter convocado a greve.

“No sector da saúde e nas escolas a adesão à greve está acima dos 80%, depois temos as Finanças, Justiça e Segurança Social que será inferior pois são grupos profissionais mais corporativistas e que nunca tem uma adesão tão grande quando falamos de greves gerais, disse à Lusa Orlando Gonçalves. O responsável sindical adiantou que no Hospital de S. João no Porto a adesão é superior a 90%.

"Tudo” em serviços mínimos

“Nas consultas externas em 12 balcões de atendimento não está ninguém ao serviço. Estão todos encerrados. Temos um director de serviços a tirar senhas para ajudar os doentes, blocos operatórios a 100% as enfermarias com adesão entre 85 a 90% . Tudo em mínimos, é uma adesão forte, excepto na recolha de sangue, que está a funcionar mais ou menos dentro da normalidade”, contou.

Segundo o sindicalista, este cenário é mais ou menos o mesmo em quase todos os hospitais do país.

“Tive conhecimento de que o INEM tem vários meios inoperacionais por adesão à greve e que os trabalhadores estarão a ser ameaçados com processos disciplinares por não estarem a ser cumpridos serviços mínimos. De facto, existe um acordo colectivo de serviços mínimos até bastante alargados por ser o serviço que é, mas são os serviços que têm de designar os trabalhadores que têm de cumprir esses serviços mínimos. O INEM não designa, já na greve anterior também não designou e depois acham que a culpa é dos trabalhadores por aderirem à greve. (...) Têm de cumprir os procedimentos legais e só depois podem exigir”, disse.

No que diz respeito às escolas, Orlando Gonçalves diz que ainda não consegue avançar com números exactos, mas existem muitas encerradas por todo o país. Orlando Gonçalves remeteu para mais tarde dados mais concretos da paralisação. Também a

“São avisos prévios de 24 horas que englobam, de uma maneira geral, todos os trabalhadores da Administração Pública e, apesar de não ser uma greve nacional, mas sim uma manifestação, haverá perturbações, sobretudo nas escolas”, disse à Lusa na quinta-feira o coordenador da Frente Comum, Sebastião Santana.

Já esta sexta-feira, Filinto Lima, que lidera a Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, disse que embora sem dados, pode afirmar que muitas escolas estão fechadas, com o Ensino Básico a ser “o mais afectado”. “Mesmo com professores mas sem assistentes operacionais e outros funcionários, as escolas estão encerradas”, completa.

O impacto da inflação

A manifestação foi anunciada em 26 de Abril, numa cimeira de sindicatos da Frente Comum, afecta à CGTP, em resposta ao resultado da reunião com o Governo, que manteve uma actualização salarial de 0,9% para este ano, apesar do agravamento da inflação.

“Face à postura assumida pelo Governo, que não apresentou nenhuma proposta salarial, mantendo os 0,9% que nos foram impostos em Janeiro, nem respondeu ao nosso caderno reivindicativo, os sindicatos da Frente Comum decidiram avançar com esta forma de luta, uma semana antes da votação final global do Orçamento do Estado” para 2022, disse então o coordenador da Frente Comum, Sebastião Santana, à agência Lusa.

Para o sindicalista, a actualização de 0,9% “é completamente inaceitável porque, face ao aumento do custo de vida que se verifica hoje, representa o agravamento da perda de poder de compra”.

Revisão da tabela

Sebastião Santana salientou que, se o Governo tiver vontade de sanar o conflito, ainda tem tempo de alterar a situação antes da aprovação final do OE2022.

Além do aumento geral dos salários em 90 euros, a Frente Comum reivindica a correcção da Tabela Remuneratória Única, o descongelamento efectivo das promoções e das progressões nas posições remuneratórias e a revisão do sistema de avaliação.