Keli Freitas e Raquel André pensam como dizemos o mundo

Outra Língua, espectáculo nascido do encontro entre as duas criadoras, questiona a língua como ferramenta de poder, de exclusão e de categorização do mundo em nosso redor. Em Viseu e em Lisboa, há um palco para contestar as palavras e os seus sentidos.

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Filipe Ferreira

Nos primeiros minutos de Outra Língua, ouvimos que “a única certeza é o vinagre”. Mas também que há uma acção chamada “desmontar javali por dentro”, que existe algures um “extremo de cartomante no princípio da alfazema”, uma “estátua viva na esquina da Almirante Reis com a Amazónia” ou até um “velho hábito de comprar tsunamis pela Internet para instalar no jacuzzi”. E, portanto, não demora até que o amontoado de palavras que as actrizes Nádia Yracema e Tita Maravilha atiram na direcção do público comece a parecer não tanto um exercício de surrealismo, mas um discurso aleatório. São palavras e frases que chamam a atenção para a língua que usamos enquanto senha para a comunicação entre nós, mas também para o facto de a língua tanto estabelecer pontes e permitir o entendimento entre as pessoas como poder constituir uma barreira. Uma frase sem sentido cria distância, uma palavra trocada por outra pode gerar cataclismos, uma reorganização semântica facilmente desencadeia o caos. A língua, parece dizer-nos a criação conjunta de Keli Freitas e Raquel André, em estreia esta sexta-feira, dia 20 de Maio, no Teatro Viriato, Viseu, seguindo depois para o D. Maria II, Lisboa, de 26 de Maio a 12 de Junho, pode ter as melhores intenções, mas às vezes só complica.

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