Portugal tem 23 casos confirmados de varíola-dos-macacos: Graça Freitas recomenda isolamento físico de infectados
Sequenciação do vírus que circula em Portugal indica que pertence ao subgrupo da África Ocidental, sendo, portanto, menos agressivo e menos transmissível. Graça Freitas afirma que quem está doente ou esteve em contacto com um doente deve manter o isolamento físico. OMS convoca reunião urgente.
Portugal tem 23 casos confirmados de infecção humana por varíola-dos-macacos (também conhecida como vírus monkeypox, VMPX). A informação foi agora confirmada pela Direcção-Geral da Saúde (DGS). Esta sexta-feira, uma versão preliminar de um artigo sobre a sequenciação do genoma do vírus monkeypox, realizado por investigadores do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), tinha sido publicada com a informação que Portugal já tem mais de 20 casos confirmados. Portugal é o segundo país europeu com mais casos registados, seguido da Espanha com 30.
De acordo com a DGS, os novos casos foram confirmados no final desta quinta-feira. Em relação ao estado de saúde das 23 pessoas infectadas com VMPX, a DGS indica que “mantêm-se em acompanhamento clínico, encontrando-se estáveis e em ambulatório”. Com mais de duas dezenas de casos confirmados, a directora da DGS, Graça Freitas, indicou esta sexta-feira, em entrevista à RTP1, que “quem está doente ou esteve em contacto com um doente deve manter o isolamento físico dos outros e não partilharem roupa e objectos.”
"Não é frequente que estes surtos sejam multifocais, ou seja, que apareçam vários surtos em muitos países ao mesmo tempo”, esclareceu Graça Freitas. “Já emitimos instruções a todos os clínicos para que, perante os casos suspeitos, possam recolher amostras” para posteriormente serem enviadas ao INSA para análise. A Organização Mundial da Saúde convocou uma reunião urgente para esta sexta-feira, destacando a “preocupação com uma potencial aceleração da transmissão”, nas palavras do director regional europeu, Hans Kluge.
Em relação à vacinação, apesar de não existirem dados sobre as reservas existentes, a directora-geral da saúde disse que existe “uma reserva da vacina contra a varíola humana” em Portugal, acrescentando, no entanto, que estão a estudar a hipótese de comprar vacinas de terceira geração: “Neste momento, em parceria com o Infarmed, a Agência Europeia do Medicamento e a OMS, estamos a ver se é pertinente ou não que as pessoas recebam a vacina”. Graça Freitas informou ainda que “os peritos em vacinação” estão a estudar os riscos e benefícios de utilizar a vacina com a varíola humana, indicando que “se os benefícios se sobrepuserem aos riscos, será recomendado”.
A vacina de terceira geração, aprovada em 2013 pela Agência Europeia do Medicamento, é a MVA-BN/Imvanex. Esta é a única vacina contra a varíola humana de terceira geração, aprovada para a prevenção da varíola humana e do VMPX. A vacina não está disponível de forma generalizada, no entanto a empresa responsável pelo seu fabrico, a Bavarian Nordic, já informou que foi assegurado o fornecimento a um país europeu não desvendado.
Relativamente aos inquéritos epidemiológicos, o comunicado enviado esta sexta-feira refere que “estão em curso”, não dando mais nenhuma informação sobre o estabelecimento de relação entre os casos confirmados. Aguardam-se ainda os resultados relativamente a outras amostras de casos suspeitos. não existe, para já, recomendação de isolamento para os casos confirmados ou suspeitos, nem respostas sobre o número de vacinas contra a varíola existentes na reserva portuguesa.
O documento, assinado pelos investigadores do Insa esta sexta-feira, foi publicado num fórum de discussão para análise e interpretação de epidemiologia e evolução molecular do vírus. Nele, descrevem a composição genómica do vírus da varíola-dos-macacos, confirmando também que a primeira análise filogenética rápida indica que este vírus pertence ao subgrupo da África Ocidental, sendo, portanto, menos agressivo e menos transmissível, informação também confirmada pela DGS.
Esta sexta-feira, com os casos anunciados, contam-se já mais 80 casos em todo o território europeu. Neste momento, existem casos confirmados, fora do continente africano, em Espanha (30), Reino Unido (20), Itália (3), Bélgica (2), Canadá (2), Alemanha (1), Austrália (1), Estados Unidos (1), França (1) e Suécia (1).
A varíola-dos-macacos (também conhecida como vírus monkeypox, VMPX) é um vírus tipicamente com baixa transmissibilidade para humanos e que regista sintomas leves, sendo encontrado sobretudo em roedores e primatas não humanos nas florestas da África Central e Ocidental. O surgimento de casos em vários países onde nunca tinha havido registos do VMPX levanta preocupações sobre a origem do surto e a epidemiologia da doença, algo que a DGS e o Centro Hospitalar Lisboa Central estão a investigar em conjunto para perceber quais as fontes de contágio.
A entidade liderada por Graça Freitas alerta que todos “os indivíduos que apresentem lesões ulcerativas, erupção cutânea, gânglios palpáveis, eventualmente acompanhados de febre, arrepios, dores de cabeça, dores musculares e cansaço” devem procurar aconselhamento clínico.