Descoberta gravura de cabra montesa com 12 mil anos no vale do Côa
Este novo sítio está localizado nas proximidades do Museu do Côa e foi identificado em 2018, graças à descoberta de blocos de quartzo utilizados na construção de fogueiras e vestígios de pedra lascada deixados pelos últimos grupos paleolíticos do vale do Côa.
Arqueólogos da Fundação Côa Parque colocaram a descoberto a gravura de uma cabra montesa numa placa de xisto com cerca de 12.000 anos, durante prospecções no Parque Arqueológico do Côa, disse à agência Lusa a presidente daquela entidade. De acordo com a presidente da fundação, Aida Carvalho, esta placa de xisto agora descoberta representa uma cabra montesa que foi identificada um novo sítio com arte móvel no território do Parque Arqueológico do Vale do Côa, no concelho de Foz Côa, distrito da Guarda.
“Durante trabalhos de prospecção, a equipa de arqueologia da Fundação Côa Parque, juntamente com os estagiários de doutoramento Tania Mosquera Castro, da Universidade de Santiago de Compostela, e Ignacio Triguero, da Universidade de Alcalá de Henares, em Espanha, identificaram uma placa de arte móvel com a representação de uma cabra montesa, num novo sítio arqueológico do vale do Côa”, explicou a responsável. Segundo os investigadores, a arte móvel é um tipo de arte paleolítica que se inscreve em suportes de pequeno tamanho (pedra, osso, haste ou marfim), passíveis de serem transportados.
“A placa de xisto encontra-se queimada e apresenta numa das faces a representação dos quartos dianteiros do que parece ser uma pequena cabra montesa, que segue um segundo animal de maior tamanho, cuja cauda curta e encurvada sugere tratar-se de um veado ou de uma cerva, ao qual falta a cabeça devido a fractura do suporte”, explicou o director científico da fundação, Thierry Aubry.
De acordo com o especialista em arte rupestre, estas figuras apresentam os corpos muito geometrizados e são gravadas por incisão, o seu interior encontra-se totalmente preenchido por linhas igualmente incisas, um tipo de preenchimento a que os arqueólogos chamam “preenchimento estriado”. Aubry realçou que, apesar de se tratar de um achado de superfície, o estilo das representações remete para a fase “azilense da Arte do Côa”, com uma cronologia de há cerca de 12.000 anos.
Este novo sítio está localizado nas proximidades do Museu do Côa e foi identificado em 2018, graças à descoberta de blocos de quartzo utilizados na construção de fogueiras e vestígios de pedra lascada deixados pelos últimos grupos paleolíticos do vale do Côa. “O sítio localiza-se numa pequena plataforma localizada no vale de José Esteves, por onde corre uma ribeira afluente da margem esquerda do Rio Douro”, explicou o também arqueólogo. “Futuros trabalhos no local poderão vir a esclarecer melhor a datação da placa e o seu contexto de utilização”, vincou Thierry Aubry.
A arte do Côa foi classificada como Monumento Nacional em 1997 e, em 1998, como Património da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Como uma imensa galeria ao ar livre, o vale do Côa apresenta mais de 1200 rochas, distribuídas por 20 mil hectares de terreno com manifestações rupestres, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há mais de 25.000 anos, e distribuídas por quatro concelhos: Vila Nova de Foz Côa, Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel e Meda.