Equívoco: respirar ar poluído só afecta os pulmões

Há cada vez mais ligações entre a exposição à poluição atmosférica e o aumento do risco a diferentes doenças.

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A poluição está associada à morte prematura de 4,2 milhões de pessoas em 2016 Fabrizio Bensch/Reuters

Nove em cada dez pessoas no mundo respira ar exterior poluído, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os pulmões são os órgãos mais afectados: a inflamação do tecido pulmonar, a asma e até o cancro do pulmão podem estar associados à exposição duradoura da poluição atmosférica. Infelizmente, a poluição alcança muitos outros tecidos do corpo.

Estima-se que 4,5 milhões de pessoas tenham morrido prematuramente em 2019 devido à exposição do ar fora de casa, segundo um estudo publicado The Lancet Planetary Health nesta terça-feira. Os elementos mais relevantes que constituem esta poluição são as partículas sólidas, o ozono (O3), o dióxido de azoto (NO2) e o dióxido de enxofre (SO2). Apesar de o monóxido de carbono (CO) também ser um gás muito perigoso, o seu risco está associado a ambientes fechados. O O3, o NO2 e o SO2 atacam especialmente os pulmões, promovendo asma e outras doenças pulmonares.

São as partículas sólidas as grandes responsáveis por levarem a poluição atmosférica a outros tecidos. Elas são compostas por sulfatos, nitratos, amónia, cloreto de sódio, fuligem, poeira mineral e água, e estão suspensas no ar.

Existem partículas de vários tamanhos, as mais perigosas são as que têm um diâmetro abaixo dos 2,5 micrómetros, as PM 2,5. Estas partículas finas atravessam a barreira dos pulmões e entram na corrente sanguínea. Já se encontraram minerais de magnetite em cérebros humanos. Estes minerais, libertados pelos carros na combustão, não só passam dos pulmões para o sangue, como atravessam a barreira hematoencefálica e penetram no cérebro.

Há provas fortes de que a exposição crónica às PM 2,5 contribui para o risco de doenças cardiovasculares, além do cancro do pulmão e outras doenças pulmonares. Mas várias investigações preliminares têm associado a exposição destas partículas a problemas neuro-degenerativos como as doenças de Alzheimer e de Parkinson, à diminuição da qualidade do esperma nos homens, ao aumento dos nascimentos prematuros, entre outros problemas.

Por isso, é um equívoco pensar-se que a poluição do ar afecta apenas os pulmões, o que a ciência vai sugerindo é que afecta todo o organismo.