Árvores de florestas tropicais estão a morrer mais rápido por causa das alterações climáticas
As árvores não morrem de um dia para o outro, mas desde há décadas que se notam alterações no seu tempo de vida nas florestas tropicais da Austrália. Esta morte mais rápida pode fazer com que o carbono que as árvores armazenam regresse mais rapidamente à atmosfera.
As árvores das florestas tropicais da Austrália estão a morrer duas vezes mais rápido desde os anos 1980 por causa das alterações climáticas. Uma equipa de cientistas analisou registos feitos ao longo de 49 anos e também descobriu que a mortalidade anual de todas as espécies de árvores nestes terrenos florestais duplicou nos últimos 35 anos. Nos terrenos menos húmidos, a mortalidade das árvores era maior. O estudo com estas conclusões foi publicado esta quarta-feira na revista científica Nature.
Os cientistas concluíram que as árvores estão a “durar” quase só metade do tempo de vida que tinham antes e que a taxa de mortalidade destas árvores duplicou nas últimas quatro décadas. Estes padrões foram registados em todas as espécies e zonas florestais analisadas.
Neste trabalho, a equipa somou o registo de um total de 2305 árvores que morreram desde 1971. E, acrescentam, os cálculos mostram que o risco de mortalidade de árvores aumentou de uma média de 1% ao ano para 2% por ano (isto a partir de meados da década de 1980).
“Já foi um choque ver uma subida tão marcada na mortalidade das árvores, quanto mais notar uma tendência transversal às espécies e locais que estudámos”, afirmou o autor principal do estudo, David Bauman, citado em comunicado. “Um período de duplicação constante no risco de mortalidade implica que o carbono armazenado nestas árvores regressa duas vezes mais rapidamente para a atmosfera.”
O aquecimento global faz com que as temperaturas médias à superfície da Terra aumentem ao longo dos anos (fenómeno causado pelas emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa) e isso também tem impacto na saúde das árvores. O ar mais quente retira humidade das plantas e deixa-as mais “sedentas” de água, que muitas vezes escasseia. Deixando estas espécies em perigo, a biomassa e a capacidade de armazenamento e de funcionarem como sumidouros de carbono fica igualmente em risco. Ao mesmo tempo, torna-se mais difícil cumprir as metas de temperatura definidas pelo Acordo de Paris.
“Não só notámos um aumento na mortalidade, como este aumento já parece ter começado nos anos 1980, o que indica que os sistemas naturais da Terra já devem ter estado a responder às mudanças no clima durante décadas”, comentou ainda o ecologista tropical David Bauman. Tal como está a acontecer com os recifes de corais, as florestas tropicais já estão a mudar há anos por causa das alterações climáticas, defendem os investigadores. E a mudança é veloz.
O estudo envolveu uma equipa internacional de cientistas de várias universidades australianas e do Peru, assim como do Centro de Investigação Ambiental Smithsonian (Estados Unidos), da Universidade de Oxford (Reino Unido), e do Instituto de Investigação e Desenvolvimento Sustentável (IRD, de França), que analisou os dados de longa duração das florestas tropicais da Austrália. E concluíram ainda que as perdas na biomassa causadas pelas alterações climáticas não estão a ser compensadas pela plantação de novas árvores e florestas.