Sentir o som ao invés de apenas ouvir: é esta a proposta da Eufonia Sound/ Art + Science, que chega ao Porto na forma do Sub_Bar Experience, um evento “pioneiro que junta música e ciência numa perspectiva educativa, cultural e inclusiva”. Sendo o tacto “o lar das nossas memórias mais profundas e reacções mais instintivas”, há uma questão que a organização coloca: o que será que acontece quando o estimulamos com música? A resposta vai ser dada no M.Ou.Co, no Porto, a 5 de Junho.
“Sente-se todo o corpo vibrar, especialmente o peito, sente-se uma ressonância”, como efeito das subfrequências (frequências sonoras muito baixas, abaixo dos 60 Hertz), descreve Francesco Spaggiari, fundador e director na Eufonia Sound/ Art + Science, em conversa com o P3. Graças à instalação de um sistema subwoofer quadrifónico (um altifalante concebido para reproduzir frequências de áudio baixas), os espaços que acolhem o Sub_Bar Experience transformam-se em “salas de pressão musical”, onde ouvir passa a ser um trabalho a corpo inteiro.
O M.Ou.Co, inaugurado em 2021, vai ser a casa por um dia da Eufonia Sound/ Art + Science. Depois de passar por Lisboa a 26 e 27 de Maio, a experiência no Porto vai ter um formato diferente por ser o “primeiro evento extra”. Dividido em três sessões (16h, 18h e 20h), o Sub_Bar Experience vai começar na sala de espectáculos com a actuação ao vivo de Francesco Spaggiari, também DJ e produtor musical. Seguem-se “uma componente visual e oito composições musicais, de sete minutos cada”, segundo revela o hotel em comunicado, passando depois pelas “instalações” que vão estar no bar do piso 0. “Uma das instalações é uma cadeira que vibra usando a posição das mãos. Nesta cadeira, há um comando em que se toca e depois sentem-se as baixas frequências a passar pelo corpo”, continua.
“Faltam-nos experiências diferentes”, diz Sofia Miró, responsável pela programação cultural do M.Ou.Co. A directora acredita que com o Sub_Bar Experience se “abre uma oportunidade, um campo de exploração”, para que pessoas com surdez ou qualquer deficiência auditiva de qualquer nível possam participar neste género de eventos, “que ainda não são muitos na cidade”.
Compreender esta dimensão do som e a tecnologia háptica (relativa ao tacto) pode parecer complexo, mas na realidade é simples: o som é uma onda de pressão, “e, quando a frequência desta vibração é muito alta, percebemos este som através do ouvido”, explicita Francesco Spaggiari. “Há certas frequências que são baixas” e, por isso, “percebemo-las um pouco através do ouvido, mas a maioria sente-se através do corpo”. Existem ainda outras, as mais baixas, “que basicamente só percebemos através do corpo”. “E é o mesmo tipo de onda, mas temos dois canais para as receber. Um é o ouvido e o outro é o sentido táctil”, completa.
No Sub_Bar Experience, o que existe é “silêncio e baixas frequências”, e, para “surpresa” do fundador, “é divertido durante muito tempo”. “Foi algo que escrevi no papel e que esperava que funcionasse, mas nunca tinha experimentado”, confessa. A estreia do projecto foi em Berlim, em Dezembro de 2021, num evento que reuniu 70 pessoas e que superou as expectativas. Ao contrário do esperado, “as pessoas permaneceram” durante toda a experiência, que demorou “quatro horas”.
Citando uma das artistas envolvidas no projecto, Stefanie Egedy, Francesco Spaggiari sublinha que “as subfrequências são algo que ou se ama ou se odeia”. É “tão intenso”, que a maioria das pessoas prefere “sentar-se, pelo menos no início”. Outras chegam mesmo a estar deitadas, e “deixam-se ir com algo que, de certa forma, é semelhante à dor”. “Claro que não é dor”, ressalva Francesco, “mas há estímulos” que, de tão “fortes”, “estão entre a dor e o prazer”.
Para além de Stefanie Egedy, também Myles de Bastion, Byetone, Deaf Rave, DJ Troi Lee, Cigarra e Carincur fazem parte do lote de artistas que se associaram ao projecto. Os bilhetes para cada uma das três sessões do Sub_Bar Experience já estão à venda por dez euros.
Texto editado por Ana Maria Henriques