PS acusa Câmara de Lisboa de congelar transferências financeiras para a Carris

Socialistas eleitos para a autarquia alfacinha criticam também atraso na nomeação de administradores em três empresas municipais. CML diz que a transferência será feita “muito em breve”.

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Carris muda de imagem no próximo mês LUSA/MANUEL ALMEIDA

Os socialistas eleitos para a Câmara Municipal de Lisboa (CML) manifestam-se “muito preocupados” por a actual presidência da autarquia “ainda não ter feito nenhuma transferência” para a Carris para financiar a operação e investimento da empresa, como ficou contratualizado em 2021. Dizem ainda temer que se “volte ao velho endividamento das empresas públicas”, que afirmam ter sido resolvido pela anterior gestão do PS.

Segundo o vereador do PS João Paulo Saraiva, que cita o anexo do acordo de 2021, os valores em dívida são 13,2 milhões de euros respeitantes a 2021 e mais 24,2 milhões já deste ano, relativos ao primeiro pagamento das transferências efectuadas anualmente pelo fundo de mobilidade, criado pela CML para financiar a operação e investimento da Carris. O prazo para estas transferências terminou no primeiro trimestre do ano. Ou seja, de acordo com os socialistas, o total em dívida é de 37,4 milhões de euros.

“Estamos muito preocupados. Por um lado, quer o presidente da câmara quer a direcção têm anunciado grande investimento na Carris e continuidade do trabalho que foi feito pela anterior gestão e agora estamos nesta situação. E menos se percebe quando se sabe que a autarquia tem contas saudáveis, tendo depositado nos bancos mais de 100 milhões de euros”, disse ao PÚBLICO João Paulo Saraiva, que foi vice-presidente da autarquia e responsável pelas finanças no último mandato de Fernando Medina.

O vereador socialista acrescenta que se as transferências “não forem feitas rapidamente, vai chegar o momento em que a Carris vai ter de se voltar a endividar, prejudicando uma gestão saudável que foi feita nos últimos anos”.

João Paulo Saraiva lembra que a anterior direcção da autarquia resolveu “os problemas de endividamento das empresas municipais”, dizendo que neste momento “só a Gebalis tem uma dívida” à banca, mas que “está a ser regularizada”.

O vereador socialista diz-se igualmente “muito preocupado” pelo facto de estarem “por nomear dois administradores” da Carris para substituir os que saíram no final de Março. “A Carris tinha uma equipa de excelência, pelo que não se compreende este atraso na nomeação de novos administradores. É uma situação que transmite uma mensagem de precariedade na empresa”, afirma o socialista.

João Paulo Saraiva acrescenta que o atraso destas nomeações “revela uma situação padrão” da actual presidência da autarquia, já que, acusa, “estão também por nomear administradores para a EGEAC (Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural) e EMEL (Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa), cujos conselhos de administração se encontram em gestão corrente desde 18 de Outubro do ano passado”, já que “os seus mandatos são coincidentes com os mandatos municipais.

“Estas empresas estão a viver numa espécie de gestão corrente há cerca de seis meses, o que é muito preocupante”, conclui o vereador socialista.

O PÚBLICO contactou o gabinete de comunicação da CML para obter uma reacção da presidência da autarquia a estas acusações. A resposta veio de Filipe Anacoreta Correia (CDS), responsável pelas finanças do município: “Temos o valor previsto em orçamento. Trata-se de uma questão procedimental dos serviços, mas muito em breve será efectuada a transferência da verba.” O vereador nada disse sobre as nomeações de administradores em falta.

O PÚBLICO questionou também a administração da Carris, através do gabinete de relações públicas. A empresa limita-se a dizer que tem “um calendário da oferta programada que é elaborado no ano anterior e divulgado”. Acrescenta ainda que este “calendário é programado de forma a adaptar a oferta à procura estimada para cada período do ano” e que “irá cumprir” o programado para este ano, “não obstante possam vir a ser feitos alguns reforços, sempre que tal se justifique e existam meios disponíveis para o efeito”.

A empresa de transporte vai mudar no dia 1 do próximo mês, com a entrada em funcionamento da Carris Metropolitana, novo sistema de transporte rodoviário da Área Metropolitana de Lisboa, que vai acabar com 902 tipologias de bilhetes e criar três novas empresas. Operadores como a Vimeca ou a Transportes Sul do Tejo desaparecem e são substituídos por um serviço que tem uma marca única e uma nova imagem.

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