Os oceanos estão mais quentes e ácidos e o seu nível continua a subir

Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas avisa que 2021 foi um ano de recordes pela negativa para os oceanos e que, entre 2013 e 2021, as águas do mar subiram o dobro do que haviam subido entre 1993 e 2002.

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Os oceanos absorvem aproximadamente 90% do calor terrestre e 23% das emissões de CO2 que a actividade humana provoca Nicolau Botequilha

Nunca as temperaturas dos oceanos e a sua acidificação foram tão elevadas como em 2021. Paralelamente, o derretimento dos glaciares ajudou o nível médio das águas do mar a subir ainda mais. São estas algumas das conclusões do novo relatório anual da Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas (OMM) sobre o estado do clima, apresentadas esta quarta-feira.

“O nosso clima está a mudar à frente dos nossos olhos. O calor retido pelos gases com efeito de estufa (GEE) que a actividade humana liberta aquecerão o planeta por muitas gerações”, afirma, em comunicado, o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

O relatório lembra que os últimos sete anos foram os mais quentes na Terra e destaca também que os níveis de dióxido de carbono (CO2) e metano na atmosfera bateram recordes em 2021.

A OMM refere que a temperatura média global rondou os 1,11 graus Celsius acima da média pré-industrial em 2021. O planeta está a ter dificuldade em limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima da média pré-industrial. Prevê-se que, uma vez ultrapassada essa marca, os efeitos do aquecimento global se tornem drásticos.

Na sequência da publicação do relatório, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que o mesmo é demonstrativo do “fracasso da humanidade em combater as mudanças climáticas”. Dizendo que o “​sistema global de energia” está “partido” e que, como tal, estamos a aproximar-nos “cada vez mais da catástrofe climática”, Guterres pede para se “acabar com a poluição por combustíveis fósseis e acelerar a transição para as energias renováveis”, sob pena de o planeta avançar para uma situação irremediável.

As temperaturas foram ligeiramente mais baixas em 2021 do que em 2020, devido ao arrefecimento provocado pelo La Niña, um fenómeno natural oceanográfico que causa alterações abruptas nas temperaturas do ar e nos padrões de precipitação global. Ainda assim, 2021 foi um dos sete anos mais quentes desde que há medições. É só “uma questão de tempo” antes de vermos “outro ano” de temperaturas recorde, vaticina Petteri Taalas.

Guterres pede alívio de entraves a energia verde

Os oceanos, que absorvem aproximadamente 90% do calor terrestre e 23% das emissões de CO2 que a actividade humana provoca, têm vindo a aquecer de forma progressiva e preocupante ao longo dos últimos 20 anos e, segundo o relatório, espera-se que essa tendência continue a verificar-se. E a OMM avisa: muito provavelmente, serão precisos séculos ou milénios para tal cenário ser invertido. “O aumento do nível do mar, o calor e a acidificação dos oceanos continuarão por centenas de anos. A menos que sejam inventadas maneiras de remover o carbono da atmosfera”, diz Petteri Tallas.

O nível de acidez dos oceanos é o mais elevado dos últimos 26 mil anos e as águas do mar subiram 4,5 milímetros na última década — entre 2013 e 2021, subiram o dobro do que haviam subido entre 1993 e 2002.

António Guterres propõe cinco acções para dar início à transição para as energias renováveis “antes que seja tarde”: acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis, triplicar o investimento em energias renováveis, reduzir a burocracia, garantir o fornecimento de matérias-primas para tecnologias de energias renováveis e, por último, tornar essas tecnologias — como o armazenamento de baterias — bens públicos globais disponíveis gratuitamente.

O secretário-geral das Nações Unidas refere que as tecnologias de energias renováveis e matérias-primas estão neste momento concentradas num lote restrito de países e que é essencial diversificar as cadeias de abastecimento. “Bancos comerciais e todos os elementos do sistema financeiro global têm de aumentar de forma dramática o seu investimento em energias renováveis enquanto se desprendem dos combustíveis fósseis”, afirma ainda.

Guterres reforça também que os países devem aliviar as suas restrições no que diz respeito à propriedade intelectual de inovações tecnológicas, de modo a que todo o planeta possa acelerar a sua transição para uma economia verde e azul.