“A febre está a estender-se a todo o país”, diz Kim Jong-un sobre a covid na Coreia do Norte
Quase 400 mil novos casos em 24 horas e oito mortos. Mais de 1,2 milhões de casos desde quinta-feira. O país está em “alerta máximo” desde sábado por causa do grande número de pessoas com “sintomas de febre”.
As autoridades sanitárias da Coreia do Norte anunciaram esta segunda-feira 392.920 novos casos positivos de covid-19 em 24 horas, com o registo de oito mortos. Dois anos e meio depois do início da pandemia, durante os quais o Governo norte-coreano garantiu que não tinha registo de qualquer caso, Pyongyang reconheceu, na sexta-feira, o surgimento de um surto da doença a 12 de Maio.
O estado de “alerta máximo” foi declarado no sábado sem que os serviços de saúde tenham conseguido travar a expansão do vírus numa população que está maioritariamente por vacinar. Segundo a Amnistia Internacional, o regime de Kim Jong-un recusou em 2021 a oferta da Organização Mundial de Saúde (OMS) de vacinas da AstraZeneca e da Sinovac e também não quis aceitar, por duas vezes, vacinas oferecidas pela Rússia.
Agora o vírus SARS-CoV-2 parece estar a espalhar-se a grande velocidade, com um total acumulado de 1.213.550 casos positivos desde quinta-feira.
“A febre” está a espalhar-se a todo o país, disse o líder norte-coreano na reunião de emergência de sábado em que se decidiu colocar o país em estado de alerta máximo, segundo o site NK News. No entanto, como esse alastramento não é uniforme a todas as regiões, Kim Jong-un exigiu que as medidas de confinamento e quarentena sejam aplicadas rigorosamente.
Na reunião, também se referiu que o país vive num estado de “grande agitação” desde que em finais de Abril se começaram a registar “sintomas de febre” numa grande quantidade de pessoas. Segundo os media estatais norte-coreanos, desde então já se registaram 50 mortes.
“Não há evidências que mostrem que a Coreia do Norte tem acesso a vacinas suficientes para proteger a sua população da covid-19”, diz Boram Jang, investigador do Extremo Oriente da Amnistia Internacional. Mesmo assim, Pyongyang preferiu até agora rejeitar as ofertas porque o programa Covax, da OMS, exige “distribuição e monitorização transparentes”.
“Com as primeiras notícias oficiais de um surto de covid-19 no país, continuar neste caminho poderá custar muitas vidas e seria uma negligência inconcebível na defesa do direito à saúde”, afirma o mesmo investigador. “É vital que o governo aja agora para proteger o direito à saúde de uma das populações no mundo com menor acesso a vacinas, sem discriminação e garantindo um plano de distribuição da vacina transparente e sujeito a escrutínio público”.
O regime estabeleceu medidas “máximas” de restrição para tentar conter o surto da variante Ómicron, detectado em Pyongyang. “Graças à alta consciência política do povo, seguramente que o país irá superar a emergência”, garantiu Kim Jong-un.
Coreia do Sul, China e Rússia já ofereceram a sua ajuda.
O Governo da Coreia do Sul “está a rever activamente a proposta para realizar uma reunião de trabalho com a Coreia do Norte” esta semana, disse um membro do Governo, que pediu para não ser identificado, à agência de notícias Yonhap. O Ministério para a Unificação sul-coreano confirmou ter recebido um pedido de reunião de Pyongyang e garantiu que dará uma resposta “o mais depressa possível” para prestar “ajuda prática” aos norte-coreanos.
Moscovo disse, na sexta-feira, estar preparado para enviar ajuda em caso de solicitação, disse a agência Interfax, mas que a Coreia do Norte não tinha pedido ainda qualquer auxílio.