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O que são microplásticos? Quais os perigos?
Há anos que a produção de plástico não dá sinais de abrandamento. São milhões e milhões de toneladas de plásticos produzidos a nível mundial, todos os anos. Os microplásticos, partículas de pequena dimensão, estão “em praticamente todo o lado”: no ar, na água, na comida, nos produtos de higiene e também já foram detectados no corpo humano. Muitos milhões acabam à deriva nos oceanos e tornam-se, a cada dia, uma ameaça crescente para a vida marinha – mas não só
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O que são os microplásticos?
Os microplásticos são partículas de plástico com uma dimensão inferior a cinco milímetros e superiores a um micrómetro. Ou seja, são mais pequenos do que um grão de arroz.
Existem dois tipos de microplásticos: os primários e os secundários. Os primários são fabricados de propósito para serem usados em produtos de plástico ou tintas ou fertilizantes, sendo também adicionados a produtos de cosmética.
Já os microplásticos secundários resultam da fragmentação de produtos de plástico maiores. Sob a acção da luz solar e da água, os plásticos degradam-se em partículas cada vez mais pequenas. Quando passam a ter menos de cinco milímetros, são considerados microplásticos.
Quais os tipos de microplásticos mais comuns?
Os plásticos são baratos, flexíveis e duradouros, daí serem tão utilizados. Mas as suas vantagens são também o motivo para serem tão problemáticos para o ambiente: são produzidos em grande escala e levam muitos anos até desaparecer. Também conhecidos como polímeros sintéticos – fabricados através de processos industriais –, há diferentes tipos de plástico. Alguns dos tipos de microplásticos mais comuns são:
Politereftalato de etileno
O PET, com que se fabrica as garrafas de plástico
Polipropileno
Usado, por exemplo, em brinquedos, tupperwares e cadeiras de plástico
Polietileno
Um plástico de baixo custo muito usado para embalar alimentos
Polimetilmetacrilato
O conhecido acrílico
Polistireno
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Esferovite
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Onde já foram encontrados?
Com dimensões tão pequenas, estes plásticos são quase invisíveis ao olho humano. Além de estarem nas areias, nas águas do oceano e nos produtos que usamos no dia-a-dia, os microplásticos também já foram detectados dentro do próprio corpo humano.
Pulmões humanos
Foram encontrados microplásticos em pulmões de pessoas vivas, o que leva a crer que a inalação é o principal foco de exposição aos microplásticos. O anúncio foi feito em 2022.
Sangue humano
Também em 2022, foram detectados microplásticos na corrente sanguínea humana. Uma investigadora envolvida no estudo diz que é preciso “compreender o quão espalhados estão no corpo humano, e o quão perigosos podem ser”.
Fezes humanas
Além dos adultos, os microplásticos foram encontrados em concentrações ainda maiores em fezes de crianças. O facto de levarem muitos objectos à boca pode ser um dos motivos.
Animais
Nos pinguins da Antárctida, por exemplo, a presença de microplásticos é “bastante frequente” – o que significa que o lixo chega mesmo aos “lugares mais insuspeitos da Terra”. Há centenas de espécies de animais em que estes microplásticos já foram detectados, mas o número de espécies afectadas pode chegar aos milhares.
Em água, comida, areia e pó
Além dos seres vivos em que foram encontrados, os microplásticos são também encontrados em areias, na água do mar, em água engarrafada, em frutas e outras comidas. “São encontrados em praticamente todo o lado”, explica o cientista José Paulo da Silva, da Universidade do Algarve. Também já foram encontrados em rios, na neve e na chuva.
Produtos de higiene
Muitos produtos de higiene e cosmética – como pasta e escovas de dentes, champôs, gel de banho, cremes ou detergentes – têm microesferas plásticas, usadas como agentes esfoliantes. Também são usados em tintas e fertilizantes. Como estas pequenas partículas não são filtradas pelas estações de tratamento de água, acabam por ir parar ao mar.
No ar
Os microplásticos também ficam em suspensão no ar. E não só nas camadas mais baixas: uma investigação mostrou que estas partículas foram detectadas no Sul de França, a 2877 metros acima do nível do mar. Podendo ser empurradas pelo vento, tinham viajado a mais de 4500 quilómetros da sua fonte.
Na placenta humana
Já foram detectados microplásticos na placenta. Os cientistas encararam a notícia “com grande preocupação”, já que estes microplásticos podem condicionar o desenvolvimento do sistema imunitário dos bebés ou causar outros danos. As partículas deverão ter sido ingeridas ou respiradas pelas mães.
Plásticos nas profundezas, mas também nas alturas
Microplásticos na zona mais funda do oceano…
Partícula de plástico encontrada em exemplar da espécie Eurythenes plasticus
Os microplásticos foram até detectados na Fossa das Marianas, a zona mais funda dos oceanos. Descoberta em 2020, uma nova espécie de anfípode (pertencente à ordem dos crustáceos) já tinha ingerido microplásticos. Até foi baptizada com um nome a preceito: Eurythenes plasticus.
… e no topo do Monte Evereste
Partícula de plástico detectada em amostras de neve do Monte Evereste
Também foram encontrados microplásticos mesmo junto ao cume do Monte Evereste, o ponto mais alto do planeta. Estas partículas foram detectadas em amostras de neve retiradas de 11 locais desta região montanhosa – e todas tinham microplásticos.
Quais os perigos?
Ingestão na vida marinha (e não só)
Muitos organismos marinhos ingerem estes microplásticos, desde o zooplâncton (que é comido por outros animais) até às baleias – o que os propaga na cadeia alimentar. É quase certo que haja exposição de quase todas as espécies a estes microplásticos.
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Fibras de microplástico vermelho envolvem um copépode Temora, uma espécie de zooplâncton
Créditos: Plymouth Marine Laboratory
Um problema ambiental
Os plásticos são um produto criado pelos humanos e são encontrados em quase todos os locais do planeta. São produzidos cerca de 400 milhões de toneladas de plástico todos os anos – e estima-se que a produção vá continuar a aumentar até 2050. Tudo isso deixa uma pegada ambiental. Junta-se o facto de muitos microplásticos funcionarem como uma “esponja” de poluentes, que migram para os microplásticos e depois os espalham por todo o lado, podendo também passá-los para os organismos dos animais.
A incerteza dos riscos na saúde humana
Todos os dias, inalamos pó, areias e também microplásticos – mas não se sabe ainda os efeitos que estes últimos podem ter na saúde humana. Há estudos que indicam que os humanos podem ingerir entre dezenas a cerca de 100 mil partículas de microplásticos por dia. Tal significa que, nos casos mais graves, cada pessoa pode estar a ingerir o equivalente à massa de um cartão de crédito por ano.
Não se sabe quanto tempo é que os microplásticos permanecem no corpo humano, mas a presença destas partículas pode causar danos nas células e reacções alérgicas. Os nanoplásticos poderão ser mais perigosos porque são bem mais pequenos e podem ser transportados na corrente sanguínea e atravessar as membranas celulares. Alguns componentes do plástico podem também afectar o sistema endócrino (que regula as hormonas).
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Plástico e lixo numa praia do Haiti
Ricardo Rojas/REUTERS
Um problema à deriva
Uma gigantesca ilha de plástico flutuante
Entre a Califórnia e o Havai fica a Grande Mancha de Lixo do Pacífico, uma “ilha” de lixo flutuante que se diz ter mais de 17 vezes o tamanho de Portugal. São milhares de toneladas de plástico a flutuar nessa ilha – que, ainda assim, não é propriamente visível ao longe nem por satélite, já que as partículas sintéticas são de pequenas dimensões.
Esta ilha corresponde, assim, a uma zona do oceano onde a concentração de plástico flutuante é mais elevada do que noutras partes. Uma notícia de 2018 dava conta que 99,9% dos detritos encontrados pelos cientistas nesta parte do oceano são plásticos. Encontraram recipientes, garrafas, tampas, fitas de embalagens, cordas, redes de pesca ou pequenos pedaços. Dividiram os plásticos em vários tipos e perceberam que cerca de 92% eram objectos maiores do que cinco milímetros e 8% eram microplásticos.
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Um voluntário tenta limpar o plástico amontoado numa praia da República Dominicana
ORLANDO BARRIA/EPA
Ficha técnica
Textos e pesquisa: Claudia Carvalho Silva,
Infografia e desenvolvimento web: Gabriela Gómez,
Video: Jose Alves,
Coordenação: Célia Rodrigues e
Teresa Firmino