Quanto mais me negas, mais eu gosto de ti

Quase todos os currículos que envio para fora de Portugal são brindados com um email de agradecimento pela candidatura e, mais tarde, com rapidez na resposta, seja ou não, a provável rejeição. Aqui, o cenário é tão diferente quanto o ordenado que nos separa da restante Europa.

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Krsto Jevtic/Unsplash

Lisboa foi considerada uma das melhores cidades do mundo para trabalhar remotamente, mas as empresas estão remotamente distantes do mundo no que ao recrutamento diz respeito. Falo, claro, na óptica do utilizador que dá muito, recebe pouco e que deseja, muito intensamente, sentir-se mais rejeitado que ignorado.

Já não sou o galdério que fui. Já não me atiro a todas. Só às que desejo muito. Mas há algo que não mudou. Quase todos os currículos que envio para fora de Portugal são brindados com um email de agradecimento pela candidatura e, mais tarde, com rapidez na resposta, seja ou não, a provável rejeição. Aqui, o cenário é tão diferente quanto o ordenado que nos separa da restante Europa.

De todos os currículos que enviei para empresas portuguesas, conto pelos dedos das mãos as que agradeceram, ou simplesmente me notificaram, pelo envio da candidatura. Acredito que este gesto simples ajuda a aproximar relações entre candidatos e empresas, pois se quase ninguém faz, quem agradece sai valorizado.

Ainda que não seja uma prioridade para ninguém criar este email automático, dizer que o processo de candidatura terminou devia ser prática comum. Claro que as respostas mais agradáveis são propostas aliciantes de uma nova relação contratual, mas entre ser ignorado e rejeitado, eu sinto falta de mais rejeição.

Enviar currículos é, também, como uma declaração de amor. Desenha-se um currículo sexy, tenta-se ser cativante no corpo do email, e até o LinkedIn se torna num pequeno centro do engate corporativo. A única diferença entre isto e o jantar de Natal é que o LinkedIn tem pessoas a tentar engatar empresas e não colegas.

Rejeitar é fechar um ciclo e é importante para o candidato saber que a oportunidade se esfumou e foi agarrada por outra pessoa. Para gestão de expectativas, mas também por uma questão de respeito no tempo despendido pelos candidatos em se apresentarem como opções válidas para a vaga em curso.

Eu sei que, para isto, é preciso tempo. E tempo é dinheiro. Portanto, quanto custa a simpatia de dizer que não? Valerá a pena investir nisso a longo prazo? Eu não tenho uma empresa, mas fui e serei candidato novamente. De todos os currículos, guardo com carinho as rejeições recebidas.

Não me lembro de todas, até porque é uma (curta) carreira com muitos nãos, poucos e bons sins, e infinitos “nins”. E de todos os “nins” que já esqueci, há um ou outro que guardo com mágoa no coração. Tal como aquela paixão que nunca conheceu o primeiro beijo.

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