Sánchez justifica demissão da chefe dos serviços secretos por falha na segurança
Atacado pelas perguntas da oposição, o líder do executivo contra-atacou com o “caso Kitchen” de espionagem policial ordenada pelo Governo do PP ao seu ex-tesoureiro Luis Bárcenas.
O presidente do Governo espanhol defendeu esta quarta-feira que o afastamento da directora dos serviços secretos se deveu a falhas de segurança nas telecomunicações do executivo, depois de o seu telemóvel e o da ministra da Defesa terem sido alegadamente espiados.
A titular da pasta da Defesa, Margarita Robles, na terça-feira, tinha evitado discutir as razões para o afastamento da directora do Centro Nacional de Informação (CNI), Paz Esteban, mas no debate parlamentar que decorreu esta quarta-feira, Pedro Sánchez foi um pouco mais explícito.
“Evidentemente que houve uma falha na segurança das comunicações” dos membros do executivo, reconheceu o governante.
O debate parlamentar centrou-se quase inteiramente no chamado “caso Pegasus”, relacionado com alegados actos de espionagem que visaram líderes independentistas catalães e também os telefones móveis de membros do Governo, assim como na substituição da chefe do CNI.
Atacado pelas perguntas da oposição, Sánchez contra-atacou referindo-se ao “caso Kitchen” de espionagem policial ordenada pelo Governo de direita do Partido Popular (PP) ao seu ex-tesoureiro Luis Bárcenas e advertiu que, agora, “os ladrões não estão no Governo”.
“Com este Governo, nem os fundos públicos nem os serviços de informações serão utilizados para encobrir actos criminosos ou para perseguir opositores políticos fora da lei”, afirmou o chefe do executivo, dirigindo-se à líder parlamentar do PP, Cuca Gamarra, que o acusou de governar para os independentistas.
PP, Vox (extrema-direita) e Cidadãos (direita liberal) criticaram o Governo por fazer uma “política absolutamente degradante” com o afastamento da directora do CNI e por “caluniar” os serviços de informações.
O Governo espanhol decidiu na terça-feira afastar a chefe dos serviços secretos, Paz Esteban, como consequência do “caso Pegasus”.
A responsável pelos serviços de informações espanhóis tinha sido chamada na passada quinta-feira a uma comissão parlamentar para esclarecer os contornos deste caso.
Na ocasião, Paz Esteban mostrou as autorizações judiciais que permitiram a monitorização de cerca de vinte políticos pró-independência da região da Catalunha.
O movimento a favor da independência da Catalunha pedia há várias semanas a demissão da ministra da Defesa que considera ser a principal responsável pela alegada espionagem de dezenas dos seus líderes.
O “caso Pegasus” foi revelado por um relatório do grupo Citizen Lab, relacionado com a Universidade de Toronto (Canadá), que indicava que pelo menos 65 activistas catalães foram espiados entre 2017 e 2020, estando entre os visados o actual presidente regional catalão, Pere Aragonés (que era vice-presidente da região na altura), os antigos presidentes regionais Quim Torra e Artur Mas, assim como deputados europeus, deputados regionais e membros de organizações cívicas pró-independência.
No início da semana passada, o executivo espanhol também apresentou uma queixa no tribunal Audiência Nacional por alegada espionagem dos telemóveis do primeiro-ministro e da ministra da Defesa, apesar dos factos terem ocorrido em 2021.