Capacidade mundial de produção renovável deverá crescer 8% em 2022

A Agência Internacional de Energia (AIE) frisa que são precisas medidas fortes e implementação rápida para que não haja estagnação do crescimento de renováveis em 2023 e no futuro.

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Energia solar deverá representar 60% dos novos projectos mundiais em 2022 Nuno Ferreira Santos

A Agência Internacional de Energia (AIE) espera que a nova capacidade de produção de electricidade renovável a nível mundial cresça 8% este ano, passando pela primeira vez a barreira dos 300 gigawatts (GW) de nova potência, num total de 320 GW, dos quais 60% serão de instalações fotovoltaicas.

No relatório sobre o estado das energias renováveis publicado esta quarta-feira, a entidade presidida por Fatih Birol diz esperar que os projectos de energias limpas se mantenham com custos mais elevados do que nos níveis pré-pandemia (o mesmo acontecendo em 2023), devido ao encarecimento dos fretes marítimos e das matérias-primas.

Mas, mesmo mais caras, as novas instalações de potência renovável serão mais competitivas que a produção térmica, devido a aumentos “muito maiores dos preços do gás natural e carvão”.

A AIE avisa, no entanto, que se não forem adoptadas novas iniciativas políticas, a produção renovável irá estagnar em 2023 porque “a expansão fotovoltaica será incapaz de compensar totalmente uma menor produção hídrica e adições eólicas que se mantêm estabilizadas de ano para ano”.

A agência explica que as previsões de aumento de 8% para 2022 e 2023 face a Dezembro de 2021 assentam num crescimento forte esperado por parte da China, da União Europeia e da América Latina, “apesar de previsões de queda nos Estados Unidos”.

Se o vento e o solar fotovoltaico têm o potencial de reduzir a dependência do sistema eléctrico europeu do gás russo em 2023, a AIE considera que “ainda é demasiado cedo para avaliar o potencial impacto” destas fontes de energia nos próximos dois anos.

Foram anunciadas metas ambiciosas depois da invasão russa à Ucrânia, mas é preciso “avançar rapidamente com medidas de implementação” no terreno, porque os acontecimentos recentes “provaram mais uma vez o papel essencial das renováveis no reforço da segurança do abastecimento, a par da já provada eficácia na redução das emissões [poluentes]”, afirma Fatih Birol.

Assim, a evolução que se verificar em 2023 e no futuro, “dependerá da introdução de novas e mais fortes medidas” e da sua “implementação nos próximos seis meses”.

Europa progride em 2021

Em 2021, o crescimento de potência renovável “atingiu mais um recorde”, aumentando 6% e totalizando 295 GW, apesar de se terem continuado a observar restrições nas cadeias de abastecimento relacionadas com os impactos da pandemia de covid-19, que motivou ainda atrasos na construção e a escalada dos preços das matérias-primas.

A capacidade global de produção de electricidade renovável rondava em 2021 os 3106 GW, segundo a informação estatística da AIE.

A China representou 46% do crescimento das renováveis em 2021 (foram acrescentados mais 135 GW, apesar de um decréscimo homólogo de 2%) e a Europa veio em segundo (foram acrescentados mais 47 GW, mais que os 39 GW em cada um dos dois anos anteriores), essencialmente devido ao crescimento do solar em mercados como “Espanha, França, Polónia e Alemanha”, destacou a AIE.

Nos Estados Unidos, o aumento de potência renovável veio em linha com 2020: mais 36 GW.

Apesar de o aumento de potência renovável em 2021 ter superado as anteriores previsões da AIE (foi de 294,1 GW face aos 288,9 GW esperados), o solar, mesmo crescendo face a 2020, acabou por ficar aquém das expectativas da agência, aumentando em 151 GW, quando a previsão era de 156,1 GW.

O contrário aconteceu com a eólica e a hídrica, que bateram as previsões, com mais 94,3 GW e 35,4 GW, respectivamente, embora no caso da eólica tenha havido uma queda face a 2020.

A AIE também nota que, em 2021, a procura de biocombustíveis regressou praticamente a níveis pré-pandémicos e que deverá aumentar 5% em 2022 e 3% em 2023.

Esta indústria não tem a vida facilitada, já que a guerra na Ucrânia veio pôr ainda mais pressão no preço das matérias-primas, nomeadamente nos óleos vegetais, o que levou a AIE a diminuir em 20% a previsão de aumento da procura de biocombustíveis.

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