É consensual que as alterações climáticas deverão levar a mudanças significativas no que diz respeito à sazonalidade de diferentes plantas terrestres: com níveis elevados de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, a taxa de fotossíntese das plantas cresce. Mas e a relação entre a subida da temperatura global e alterações na altura do ano em que floresce o fitoplâncton, que diz respeito ao conjunto de microrganismos que vivem em ambiente marinho e têm capacidade fotossintética?
Um novo estudo publicado na revista científica Nature Climate Change tenta responder a essa questão. Cientistas da Universidade Nacional de Busan (Coreia do Sul) e de três instituições norte-americanas — a Universidade de Princeton, a Universidade da Califórnia em Los Angeles e o Laboratório Geofísico de Dinâmica dos Fluidos da NOAA — indicam que, até ao fim do século XXI e devido ao aumento das temperaturas, a sazonalidade do fitoplâncton sofrerá uma alteração lenta, mas gradual. “Uma vez que as presas (por exemplo, plâncton) e os predadores (por exemplo, larvas de peixes) evoluíram conjuntamente — e, como tal, revelam interdependência —, essa alteração” no fitoplâncton, explicam, pode “representar uma perturbação significativa”.
Porquê? Se, no futuro, o fitoplâncton presente num dado ecossistema começar a florescer em alturas do ano diferentes das habituais, os “ciclos de vida de presas e predadores” poderão começar a desencontrar-se.
O fitoplâncton — que produz metade do oxigénio da Terra (a outra metade é gerada pelas florestas terrestres), formando autênticas florestas invisíveis aos olhos humanos — “forma a base da cadeia alimentar marinha e regula o ciclo carbónico do oceano”, contextualizam os investigadores, realçando que mudanças na sua sazonalidade podem afectar a “capacidade reprodutiva e de crescimento” dos seres que dele se alimentam. Se esses seres não tiverem como subsistir, os animais pertencentes aos degraus superiores da cadeia alimentar também serão colocados numa posição delicada.
E um emagrecimento dos ecossistemas será sempre um contratempo para o sector da pesca, por exemplo, pelo que alterações na sazonalidade do fitoplâncton — que, como as plantas terrestres, floresce na Primavera — podem comprometer a própria “segurança alimentar” dos humanos.
Alterações de um mês até ao fim do século XXI
Os investigadores responsáveis pelo estudo divulgado esta terça-feira fizeram, com recurso a um supercomputador, 30 simulações diferentes da forma como, devido à actividade antropogénica, as temperaturas globais aumentarão. Voltando-se, depois, para o fitoplâncton, analisaram também a sua “taxa anual de acumulação de clorofila”, pigmento que recebe a luz solar usada pelas plantas no processo fotossintético.
O período compreendido entre o “início da acumulação” desse pigmento e o “máximo anual de clorofila” foi entendido como o “período de florescimento” do fitoplâncton. Olhando para as suas simulações climáticas, os autores tentaram perceber se o aumento das temperaturas provocará mudanças nesse período.
O que é que se observou? Os tempos de “início e pico de florescimento” do fitoplâncton deverão alterar-se a uma velocidade lenta. Esperam-se, pelo menos a curto prazo, oscilações na ordem de apenas “alguns dias por década”. Mas esses “alguns dias por década”, frisa-se no estudo — que tem como principal autor Ryohei Yamaguchi, investigador do Centro para a Física do Clima do Instituto para a Ciência Básica, na Universidade Nacional de Busan —, podem transformar-se em “mais de um mês ao longo do século XXI”.
Mais de um mês em cerca de 80 anos parece pouco? Os autores garantem que não é. E destacam as latitudes mais elevadas do hemisfério Norte como a região em que os efeitos desta alteração podem vir a ser particularmente graves.
Tendo percebido como é que o fitoplâncton deverá alterar o seu comportamento fotossintético ao longo das próximas décadas, os investigadores, salienta Ryohei Yamaguchi, desejam agora perceber se tais mudanças realmente terão “um impacto negativo na futura segurança alimentar”.