O Dia da Vitória ao longo dos tempos
Nos 77 anos que se passaram desde a derrota da Alemanha nazi contra a União Soviética nem sempre o dia 9 de Maio foi visto como uma ocasião para demonstrar o poderio militar russo.
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O Presidente russo, Vladimir Putin, vai liderar os festejos do dia 9 de Maio que assinalam o 77.º aniversário da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazi, demonstrando o vasto poder de fogo da Rússia, enquanto as suas forças combatem na Ucrânia.
O aniversário era pouco celebrado em público na União Soviética até 1965. Nos anos 1990, depois do colapso da URSS, ficou confinado aos aniversários mais relevantes e o destaque era a homenagem aos veteranos.
Desde 2008, com Putin, o Dia da Vitória tornou-se uma ocasião não apenas para recordar os sacrifícios da geração anterior, que estão eternizados na memória popular russa, mas também para forjar a imagem de uma Rússia pós-comunista que restaurou a grandeza de outras épocas.
“Do ponto de vista do orgulho nacional, o significado deste feriado não pode ser sobrestimado”, dizia na sexta-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
O primeiro Dia da Vitória
A União Soviética perdeu 27 milhões de pessoas durante a II Guerra Mundial, mais do que qualquer outro país. A invasão alemão de 1941 explorou a mesma fraqueza que atraiu o imperador francês Napoleão Bonaparte para a sua campanha de 1812, que viria a falhar: a Rússia não possui barreiras físicas que protejam as suas fronteiras ocidentais.
A rendição incondicional da Alemanha nazi foi anunciada às 23h01 de 8 de Maio de 1945, recordado como o “Dia da Vitória na Europa” pela França, Reino Unido e EUA. Em Moscovo, já era dia 9 de Maio, passando a ser o “Dia da Vitória” da União Soviética daquilo a que os russos chamam de “Grande Guerra Patriótica” entre 1941-45. O líder soviético Josef Estaline declarou um feriado e o primeiro desfile na Praça Vermelha, em que foram mostradas insígnias alemãs capturadas, decorreu a 24 de Junho de 1945.
Era soviética
O 9 de Maio foi um dia normal de trabalho entre 1947 e 1965, quando o então líder Leonid Brezhnev organizou o desfile na Praça de Vermelho para celebrar o 20.º aniversário do Dia da Vitória, em que participaram veteranos e armamento histórico. Foram organizadas outras paradas em 1985, 1990 e 1995.
A ocasião para mostrar o equipamento militar soviético mais moderno eram os desfiles anuais na Praça de Vermelha, a cada 7 de Novembro, para celebrar o aniversário da revolução bolchevique de 1917.
Era de Ieltsin
O primeiro Presidente eleito da Rússia, Boris Ieltsin, fez do desfile do Dia da Vitória um evento anual a partir de 1995. Eram acontecimentos pródigos em esplendor nostálgico, numa altura em que o Exército russo, devastado pelo colapso económico pós-soviético, era uma sombra daquilo que tinha sido.
Para piorar o quadro, a NATO expandia-se para os países da Europa de Leste que haviam feito parte da antiga aliança militar comunista, o Pacto de Varsóvia. Essa expansão continua a irritar Putin, que tem apresentado a alegada intenção da NATO em permitir a entrada da Ucrânia como uma das razões para a invasão do país vizinho. A NATO nega ter qualquer plano para admitir a entrada da Ucrânia, mas cabe a Kiev decidir se deseja apresentar uma candidatura.
“Os povos da Europa têm uma dívida eterna para com a União Soviética. Deixámos o Pacto de Varsóvia terminar, por que é que a NATO tem de continuar a expandir-se?”, questionava Vasily Golubev, um veterano de 85 anos homenageado como Herói da União Soviética por ter ajudado a população de Leningrado a resistir ao cerco nazi, durante o desfile de 1997 do Dia da Vitória.
Era de Putin
Desde 2008 que os desfiles do Dia da Vitória se tornaram numa demonstração musculada de batalhões em marcha, mas também do armamento russo mais avançado, incluindo aviões, tanques e mísseis balísticos intercontinentais com capacidade nuclear.
As unidades mecanizadas participaram no desfile em 2008, pela primeira vez desde 1991, e nesse ano houve uma demonstração aérea, algo que não acontecia em nenhuma parada na Praça Vermelha desde 1957, de acordo com a agência estatal TASS. Foi também a primeira vez que um desfile foi emitido pela televisão para todo o mundo através do canal RT.
A sombra da guerra
Em antecipação do desfile desta segunda-feira tem havido especulação sobre a hipótese de Putin poder usar o seu discurso para declarar guerra formalmente à Ucrânia, ou para dar uma ordem de mobilização geral para ajudar a reforçar a campanha militar russa. O Kremlin tem negado estas sugestões.
Questionado na sexta-feira se o desfile corre o risco de ser ensombrado pelo conflito, que a Rússia designa como “operação militar especial”, Peskov disse: “O Dia da Vitória é, para todos os cidadãos russos, para todos os russos, para quase todos os habitantes do antigo território da União Soviética, um dia sagrado (…) cheio de um sentimento de dor pelos sacrifícios que sofremos e com um sentimento de orgulho pelo nosso país e pela nossa vitória. E nada irá ensombrar isso.”