Covid-19. Xangai aperta confinamento que dura há mais de um mês

As autoridades de Xangai estão a tentar reduzir para zero o número de casos fora das zonas que enfrentam os constrangimentos mais rígidos. As restrições deverão continuar até ao fim de Maio por causa do receio de um novo aumento de casos, embora os números estejam a descer.

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Pequim fechou ginásios, locais de entretenimento, proibiu os restaurantes de servirem refeições nos estabelecimentos e encerrou dezenas de linhas de autocarro e quase 15% do sistema de metro Reuters/ALY SONG

Xangai vai apertar novamente o confinamento imposto há mais de um mês em toda a cidade, prolongando até ao final de Maio as medidas que a capital da China, Pequim, estava desesperada para evitar, transformando a testagem em massa numa rotina quase diária.

As autoridades de Xangai, a “capital” financeira da China e sede do porto mais movimentado do mundo, estão a tentar reduzir para zero o número de casos fora das zonas que enfrentam as restrições mais rígidas na segunda quinzena de Maio, disseram à Reuters pessoas familiarizadas com o assunto.

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A mesma fonte disse que as restrições à movimentação da população deverão continuar durante este mês por causa do receio de um novo aumento de casos, embora os números estejam a descer. As autoridades em alguns distritos ordenaram que os habitantes voltassem para os seus complexos residenciais, depois permitir saídas para breves caminhadas ou compras rápidas.

Num vídeo que se tornou viral nas redes sociais chinesas, membros da polícia que usavam fatos completos de protecção são vistos a discutir com moradores que foram informados de que precisariam de ficar em quarentena depois de um vizinho apresentar um teste positivo.

“[Precisa de ficar em quarentena] para que possamos eliminar completamente quaisquer casos positivos”, diz um dos polícias no vídeo. “Pare de me perguntar porquê, não há porquê. Temos que seguir as directrizes nacionais.” O governo de Xangai não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre o vídeo.

O isolamento prolongado e o medo de serem enviados para centros de quarentena, que às vezes carecem de chuveiros e outras condições básicas, causaram na população uma frustração generalizada e até manifestações.

Estratégia dos zero casos

As duras restrições para parar a covid-19 em Pequim, Xangai e dezenas de outras grandes cidades da China estão a causar um grande impacto psicológico na população, algo que já está a ter consequências na segunda maior economia do mundo e a interromper e no comércio internacional.

A estratégia chinesa contrasta e muito com a da maior parte dos países do mundo, que estão a eliminar parcial ou totalmente as restrições e a aprender a conviver com o vírus, mesmo quando o número de casos aumenta.

Pequim fechou ginásios, locais de entretenimento, proibiu os restaurantes de servirem refeições nos estabelecimentos e encerrou dezenas de linhas de autocarro e quase 15% do extenso sistema de metro, enquanto muitos moradores evitam sair de casa.

“É muito estranho”, disse Ding, um morador de Pequim com 50 anos, enquanto tirava uma fotografia de uma rua vazia que levava a uma estação de metro fechada. “É a primeira vez em todos os meus anos em Pequim que vejo ruas vazias no meio do Verão. É mágico.”

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As empresas que continuam abertas não estão a atender muitos clientes, já que os habitantes fazem de tudo para não se aproximar de pessoas infectadas, algo que os forçaria a ficar em quarentena.

“A Norte, há shoppings e escritórios que foram selados, e as apps podem marca-los como contactos próximos”, disse um barbeiro da cidade, referindo-se ao software de monitorização móvel que todos os moradores devem utilizar. “Este surto perturbou-nos a todos.”

Apesar dos custos, as autoridades chinesas estão inabaláveis no compromisso de erradicar o novo coronavírus. Na semana passada, as autoridades ameaçaram agir judicialmente contra os críticos da política de zero casos de covid-19.

A testagem regular deve tornar-se numa característica da vida quotidiana em muitas cidades, já que as autoridades esperam que isso possa ajudar a detectar e isolar infecções cedo o suficiente para evitar novos confinamentos.

Este domingo, os moradores fizeram fila para mais uma ronda de testes nos distritos de Chaoyang, Fangshan e Fengtai, em Pequim. Mesmo que não se submetam à testagem em massa, as pessoas têm de apresentar um resultado negativo recente para ir trabalhar ou entrar em vários locais.

Xangai, que realizou 63 milhões de testes PCR e 126 milhões de testes rápidos de antigénio na semana passada, também continuará com esta estratégia, disseram as autoridades da cidade, acrescentando que estão a ser construídos milhares de postos permanentes para a testagem em várias cidades.

Nesta cidade com mais de 25 milhões de habitantes, 600 mil pessoas tiveram um teste positivo para a covid-19 desde Março e cerca de 19 milhões continuam confinadas em casa. No entanto, o número de novos casos diários começou a cair nas últimas duas semanas.


Tradução: Sofia Neves