É oficial: a área protegida das ilhas Selvagens cresceu 27 vezes
O novo regime jurídico da Reserva Natural das Ilhas Selvagens, aprovado em Abril, ampliou 27 vezes a área protegida, passou de 97 quilómetros quadrados de mar protegido para 2677 quilómetros quadrados de área marinha com protecção total. Já há duas expedições programadas para este ano.
Duas expedições às ilhas Selvagens estão a ser preparadas para o próximo Verão, o primeiro que se cumpre neste aquário gigante no meio do oceano depois de ter sido promulgado o diploma que amplia a área de reserva 27 vezes. A primeira, de carácter mais político, vai levar a bordo Peter Thomson, o enviado especial do secretário-geral da ONU para os oceanos. A segunda, essencialmente científica, pretende fazer um levantamento exaustivo dos ecossistemas das ilhas, para confrontar os resultados com trabalhos anteriores.
As duas viagens àquela reserva natural, adiantou ao PÚBLICO o gabinete da secretária regional de Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas, Susana Prada, estão previstas para o mês de Setembro. O objectivo da expedição que irá levar os responsáveis políticos ao subarquipélago das Selvagens, situado a 163 milhas náuticas a sul da ilha da Madeira, é apresentar o que está a ser feito na reserva, que no final de Abril viu promulgado o novo regime jurídico. Além de Thomson, viajam elementos da Comissão Europeia, ligados às políticas dos oceanos.
O novo estatuto da Reserva Natural das Ilhas Selvagens, aprovado em Fevereiro deste ano na Assembleia Legislativa da Madeira, com os votos da maioria PSD/CDS que suporta o executivo madeirense, dos deputados do JPP e PCP, e a abstenção do PS, ampliou 27 vezes a área marinha da reserva. O diploma foi promulgado a 29 de Abril pelo representante da República para a Madeira, Ireneu Barreto, depois de auscultar o Ministério do Ambiente.
A maior área protegida do Atlântico Norte
A zona protegida das Selvagens, que assinalou em 2021 os seus 50 anos classificada como reserva, passou de 97 quilómetros quadrados de mar protegido para 2677 quilómetros quadrados de área marinha com protecção total. É uma das maiores áreas protegidas do mundo, e a maior do Atlântico Norte.
Até agora, a reserva, a mais antiga do país, estava delimitada pela barimétrica dos 200 metros, abrangendo toda a aérea terrestre das ilhas Selvagem Grande e Selvagem Pequena, do Ilhéu de Fora e de outros pequenos ilhéus adjacentes. Com o regime jurídico agora promulgado, a protecção estende-se até às 12 milhas náuticas a partir da linha da costa. Dentro deste território, todas as espécies passam a estar totalmente protegidas de qualquer actividade extractiva, como a pesca ou a exploração de inertes.
A ampliação adianta o gabinete de Susana Prada, vai permitir proteger os últimos ecossistemas marinhos imaculados do Atlântico Nordeste e contribuir para que o país cumpra o compromisso de ter 30% dos mares protegidos até 2030.
Aquário gigante
Além do aumento do tamanho dos peixes (+28%), da sua densidade (+166%) e da diversidade de espécies (+21%), o governo madeirense aponta também vantagens económicas, como o aumento dos stocks de pesca nas aéreas circundantes. “Estudos indicam que a biomassa das espécies comerciais no interior de uma área de protecção total, bem implementada e bem gerida, cresce (+446%), quando comparada com as restantes áreas”, indica a secretaria regional ao PÚBLICO.
Já em Dezembro de 2020, a Madeira tinha incluído o edifício vulcânico das ilhas Selvagens na Rede de Monumentos Naturais da região autónoma, englobando a parte emersa (as ilhas Selvagem Grande e Selvagem Pequena) e os pedestais vulcânicos submarinos, que se desenvolvem a partir dos 3200 metros de profundidade e se separam aos mil metros de profundidade, até à superfície. É esta singularidade, fundos marinhos de profundidades variáveis, no meio do Atlântico, protegidos de poluição e acção humana, que explica a diversidade e a importância daquele ecossistema, que é uma espécie de aquário gigante no meio do oceano.
Viagens no calendário
“As características desta área protegida, agora alargada, nomeadamente localização, dimensão, geomorfologia e biodiversidade, fazem dela um pólo de elevado interesse para a ciência e para o conhecimento”, sublinha o Funchal
A segunda expedição, que estava inicialmente agendada para este mês de Maio, foi adiada para Setembro, e terá um cariz essencialmente científico. “Estava previsto para Maio, mas o navio [o antigo bacalhoeiro Santa Maria Manuela] não saiu a tempo do estaleiro”, explica Paulo Oliveira, do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza da Madeira (IFCN), adiantando que o objectivo é avaliar a evolução dos ecossistemas. “Vamos repetir os trabalhos já feitos, para compará-los com os resultados anteriores”, diz, acrescentando: “A ideia é tirar uma fotografia deste momento, que sirva não só para olhar para o passado, mas também como registo para o futuro”.
Previsto está também uma terceira viagem, ainda sem calendário, para a utilização do submarino LULA 1000, da Fundação Rebikoff-Niggeler, que pode mergulhar a uma profundidade de mil metros. A embarcação, que em 2019 filmou pela primeira vez um peixe-espada-preto, uma espécie de profundidade, nas águas da Madeira, tem ajudado a cartografar os mares do arquipélago. Mergulhou ao largo da ilha da Madeira, no Porto Santo e nas Desertas. O governo madeirense quer agora olhar com mais profundidade para as Selvagens.