Lula lança candidatura à presidência já a pensar em “reconstruir” o Brasil
O tema da candidatura do antigo Presidente brasileiro é a recuperação da soberania do país, que acusa Bolsonaro de ter posto em causa. Lula quer alargar coligação que o apoia.
Foi com uma aposta na defesa da democracia e em apelos à união que o antigo Presidente brasileiro, Lula da Silva, lançou oficialmente este sábado a sua recandidatura ao Palácio do Planalto para as eleições de Outubro. As sondagens atribuem ao candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) uma vantagem sólida e consistente sobre o actual chefe de Estado, Jair Bolsonaro.
Como era esperado, Lula adoptou um tom moderado no seu discurso de apresentação da candidatura em São Paulo, com o claro objectivo de consolidar a ampliar o apoio mais diverso possível em torno do seu projecto de regressar à presidência. O tema dominante da candidatura pauta-se pela recuperação da “soberania” do Brasil, que o antigo sindicalista considera estar em risco depois de quatro anos que deixaram o país numa “situação desoladora”.
“A nossa soberania e democracia vêm sendo constantemente atacadas pela política irresponsável e criminosa do actual Governo”, declarou Lula, sem nunca mencionar o nome de Bolsonaro, mas pontuando todas as suas declarações com críticas duras ao que tem sido o seu mandato. “Nunca um governo como o actual estimulou tanto o preconceito, a discriminação e a violência”, afirmou.
Um dos grandes trunfos de Lula é a memória largamente positiva que grande parte dos brasileiros tem dos seus dois mandatos como Presidente (entre 2003 e 2011), marcados por um forte crescimento económico e pelo combate contra a pobreza extrema. Mostrando que grande parte da sua campanha deverá assentar em temas económicos, Lula referiu os programas de apoio social que os seus governos promoveram.
O ex-Presidente insistiu nas críticas às políticas económicas de Bolsonaro, sublinhando sobretudo o agravamento das desigualdades sociais e o regresso da fome em larga escala – há 20 milhões de brasileiros com insegurança alimentar. “Tudo o que conseguimos está a ser destruído pelo actual Governo”, afirmou Lula da Silva.
Um objectivo claro de Lula, a cinco meses das eleições presidenciais, é alargar o espectro de forças políticas que apoiam o seu regresso ao Palácio do Planalto, uma década depois de o ter abandonado. Para além do PT, a candidatura é apoiada por outros seis partidos, incluindo o Partido Socialista Brasileiro (PSB), do seu candidato a vice-Presidente, Geraldo Alckmin, que foi governador do estado de São Paulo.
As sondagens mostram que as eleições serão decididas entre Lula e Bolsonaro, dando muito pouco espaço para que outras candidaturas se consigam intrometer nesta bipolaridade. “O grave momento que o país atravessa, um dos mais graves da nossa história, obriga-nos a superar eventuais divergências”, disse o ex-Presidente, dirigindo-se a outros líderes políticos que ainda não decidiram dar apoio público à sua candidatura.
Alckmin, que foi diagnosticado na véspera com covid-19, discursou à distância para garantir a sua lealdade a Lula, de quem foi adversário noutras ocasiões. “As disputas fazem parte do processo democrático, mas, acima das disputas, algo mais urgente e relevante se impõe: a defesa da própria democracia”, declarou o antigo governador paulista.
Daqui até Outubro, Lula e os seus aliados querem percorrer o Brasil para tentar transformar a vantagem atribuída pelas sondagens em votos, mas é no pós-eleições que o antigo sindicalista já pensa: “estamos todos dispostos a trabalhar não apenas pela vitória, mas pela reconstrução e transformação do Brasil que será mais difícil do que ganhar as eleições.”