Ventura desafia candidatos ao PSD para “convergência” à direita. Montenegro e Moreira da Silva dizem não
Luís Montenegro não tardou a reagir ao desafio lançado pelo presidente do Chega, afastando liminarmente essa possiblidade. Também Moreira da Silva exclui qualquer aproximação ao Chega.
O presidente do Chega desafiou esta sexta-feira os candidatos à liderança do PSD, Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva, para um “movimento de convergência à direita” do Governo e uma conferência que junte partidos de “alternativa ao espaço socialista”.
“O Chega, através de carta endereçada por mim, contactou hoje [sexta-feira] os dois candidatos à liderança do PSD, quer Luís Montenegro, quer Jorge Moreira da Silva, com o intuito muito claro” de, “independentemente de quem vença eleições de 28 de Maio, se realizar no mês a seguir uma grande conferência de alternativa ao espaço socialista em Portugal”, afirmou.
O objectivo é que esta conferência se repita anualmente, durante os próximos quatro anos da legislatura, no final de cada sessão legislativa. E “decorrerá quer o PSD aceite, quer o PSD não aceite”, salientou.
Sem demoras, Luís Montenegro, que começou por esclarecer ainda não ter recebido tal missiva, fez questão de afastar essa possibilidade. "Não, não vou fazer isso. Vou concentrar-me na construção de uma alternativa”, afirmou o antigo líder parlamentar à margem de um evento em que foi anunciado o seu mandatário da juventude.
Também Rui Rio se pronunciou sobre o desafio lançado por Ventura. No Porto, à margem de uma sessão para assinalar o 48.º aniversário do partido, o ainda presidente social-democrata recusou fazer qualquer recomendação aos candidatos a líder do PSD sobre esse assunto, mas fez ao líder do Chega: “Eu só tenho recomendação para fazer ao dr. André Ventura, que por mim pode convidar a direita, que eu não ia, porque eu estou farto de dizer que não sou de direita, sou de centro.”
Mais tarde foi a vez de Jorge Moreira da Silva reagir, também no mesmo sentido. Se aquando da apresentação da sua candidatura à liderança do PSD, o antigo ministro do Ambiente fez logo questão de traçar uma “linha vermelha ao Chega", agora garante não estar disponível para dar para esse “peditório”.
“A minha posição desde 2020 é muito simples e diz-se numa frase: nunca, jamais, em tempo algum. É simples, não tem novidade”, afirmou em Barcelos, no distrito de Braga, à entrada de um encontro com militantes no âmbito da campanha para as directas de 28 de Maio.
"Política económica à direita orientada para o crescimento"
Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, o líder do Chega indicou que propôs na carta enviada “cinco linhas de entendimento possíveis para começar a criar um movimento de convergência à direita” que “possa ir amadurecendo ao longo dos próximos quatro anos”.
Essas linhas de entendimento incluem “uma lógica de política económica à direita orientada para o crescimento, a ideia de uma política fiscal e económica orientada para a produtividade e para o aumento de salários e pensões, a ideia de participação portuguesa na União Europeia e a nível internacional, a reforma da justiça”, uma das “áreas onde há mais colisão entre o Chega e o PSD” e a “reforma do sistema eleitoral, sabendo-se que o Chega defende uma redução permanente e persistente dos cargos políticos e uma simplificação do sistema político”, elencou Ventura.
“Da análise que fizemos, encontramos cinco pontos que é necessário termos de convergência mínima para podermos ter um Governo à direita com Chega, PSD e IL”, indicou.
“Se chegarmos a um entendimento sobre estas matérias conseguiremos ao longo de quatro anos formar uma alternativa para enfrentar António Costa ou quem lhe suceda” à frente do PS, defendeu o líder do Chega, apontando que o erro dos partidos à direita nas últimas eleições foi não terem “feito isto a tempo”.
O presidente do Chega reconheceu que “há diferenças muito profundas” entre os partidos, mas salientou que este entendimento é “uma necessidade imperiosa”, mantendo “as identidades de cada força” política.
Ventura espera que o seu convite possa ser aceite “como reconhecimento dos erros que Rui Rio [o ainda líder do PSD] cometeu ao não aceitar a proposta do Chega” para um entendimento “no momento em que ela deveria ter sido aceite”.
Além dos dois candidatos à liderança do maior partido da oposição, André Ventura convidou também para organizar esta conferência a Iniciativa Liberal, mas indicou que estenderá o convite a “outros partidos não parlamentares” para participarem “neste encontro de natureza estritamente partidária”.
Questionado sobre o “timing” escolhido, o presidente do Chega disse que pensou “muito no momento de enviar esta missiva” e recusou querer condicionar o debate interno no PSD, mostrando-se disponível para dialogar “com os dois”, apesar de estar a “80% convencido” que Luís Montenegro sairá vencedor nas eleições directas.
Ventura considerou que, caso Luís Montenegro vença eleições no PSD, “há a possibilidade de se fazer um caminho” de convergência, mas se for Moreira da Silva, admitiu que “será um caminho mais difícil”.
Na apresentação da sua candidatura, no dia 20 de Abril, Jorge Moreira da Silva afastou diálogo com o Chega e três dias depois Luís Montenegro afirmou que não precisa de negociar “nada” com o partido, que considera “uma linha vermelha” que o “ADN” dos sociais-democratas não ultrapassará.
Notícia actualizada com declaração de Jorge Moreira da Silva