Em Santiago, capital do Chile, a relva está a tornar-se um luxo, depois de uma década de seca ter obrigado à implementação de medidas de emergência para limitar a utilização de água e levado à substituição de plantas verdes pela flora do deserto nas ruas.
A metamorfose da cidade de cerca de seis milhões de habitantes mostra como o país dos Andes, um grande produtor de cobre e alimentos, se está a ter de adaptar a um clima em mudança e mais seco, com uma seca prolongada que dura há 13 anos.
“O paisagismo de Santiago foi concebido há anos, para um clima mediterrânico. Agora, temos um clima semidesértico”, afirma Valentina Vega, directora das áreas verdes de Providencia, à Reuters. “Já não podemos desperdiçar toda aquela água.”
O Chile anunciou no início de Abril um plano, sem precedentes nos quase 500 anos de história da capital, para racionar a água através de um sistema de alerta de quatro níveis, que vão desde restrições à pressão da água até cortes alternados.
No município de Vega, o governo local planeia transformar espaços verdes ao longo das estradas e auto-estradas em jardins sustentáveis com plantas que consomem pouca água, recorrendo a rega gota-a-gota. “Isto poupa quase 90% de água em comparação com o paisagismo tradicional”, acrescenta.
A cidade também está dividida. As áreas ricas têm mais prados verdes e avenidas arborizadas, que são pouco frequentes em bairros menos prósperos. Mas todos estão a fazer mudanças, incorporando vegetação nativa e irrigação moderna para evitar desperdiçar água.
A estudante de economia Aracely Rodriguez, de 26 anos, vive em Pudahuel, uma área de classe média baixa, no noroeste de Santiago. “Onde eu vivo não há parques ou áreas verdes nas proximidades, não há muito para regar”, diz. “Tentamos tomar conta da água. Temos consciência”.
Chuva como Londres?
Para Rodrigo Fuster, um especialista em gestão de água da Universidade do Chile, as pessoas precisam de adaptar o seu uso de água a um clima mais seco. Até porque se tem verificado menos chuva e neve nos Andes, o que reduziu o fluxo dos rios.
“Há muito que se pode fazer para reduzir o consumo de água”, disse Fuster. “Numa cidade como Santiago, com um clima semiárido que está a piorar, é inaceitável que tenhamos relva e utilizemos água como se estivéssemos em Londres.”
No importante parque metropolitano de Santiago, os canais que transportam água dos rios Maipo e Mapocho estão 80% mais baixos do que o normal. Os funcionários do parque repararam fugas, actualizaram os sistemas de rega e desenvolveram florestas com “núcleos nativos” que incluem árvores que se adaptam melhor a climas mais secos.
“A seca atinge-nos a todos”, diz Eduardo Villalobos, vice-director do parque, acrescentando que as pessoas precisam de uma “mudança de paradigma” nos seus hábitos diários para ajudar a poupar água. No parque e noutros pontos de Santiago, uma área combinada de cinco hectares de relva já foi substituída, o que ajuda a poupar 300 mil litros de água em cada ciclo de rega.
As opiniões não são consensuais. Alguns moradores consideram que o novo paisagismo parece apenas uma pilha de pedras, mas outros dizem precisam de tempo para se habituarem, mas que também pode ser bonito.
Dina Robles aponta para um jardim sustentável em frente da sua casa cheio de arbustos, flores coloridas e pequenas espigas que balançam com a brisa da tarde, libertando uma fragrância de de hortelã e alecrim das plantas próximas.
“Uma vizinha disse-me que lamentava a mudança, que tinham sido prometidas flores e que só havia pedras”, diz Robles, com uma gargalhada. Em três meses, as plantas à beira da casa dela floresceram. “Depois tudo explodiu em tons de violeta e azul. É muito bonito.”