As mulheres nas séries de TV europeias: melhor para produtoras e actrizes, pouquíssimas na música ou fotografia

Relatório do Observatório Europeu do Audiovisual revela panorama frente e atrás das câmaras desde 2015 e até 2020.

Foto
"Borgen", a série dinamarquesa protagonizada por Sidse Babett Knudsen DR

A presença de mulheres nas séries europeias exibidas entre 2015 e 2020 oscila entre a quase paridade para produtoras e protagonistas, mas a quase inexistência de compositoras ou directoras de fotografia, revela um novo relatório do Observatório Europeu do Audiovisual (OEA) divulgado esta quinta-feira. Vinte e dois por cento dos episódios de ficção televisiva foram escritos por mulheres, mas só 17% foram realizados por mulheres.

O relatório Female audiovisual professionals in European TV fiction production – 2020 figures coloca em números uma realidade há muito denunciada: a da parca presença feminina entre os profissionais de algumas das funções-chave da ficção audiovisual, nomeadamente a europeia. Os dados, que mostram que 43% das séries ou telefilmes estreados em canal aberto, por subscrição, on demand ou streaming eram protagonizadas e produzidas por mulheres, revelam ainda assim uma melhoria significativa.

Entre as balizas temporais do estudo, que se baseia em dados do IMDB e da base de dados Plurimedia, o número de realizadoras no activo neste sector na Europa aumentou 8% — em 2015 eram 16%, em 2020 já eram 22%. No caso dos argumentos, houve um aumento ligeiro nesses cinco anos, e entre as actrizes os números mantiveram-se estáveis no mesmo período. Quanto às produtoras, a percentagem destas profissionais oscilou bastante entre 2015 (39%) e 2020 (43%), mas o cômputo final é positivo para a aproximação à paridade.

Note-se que o número total de séries e profissionais no activo aumentou, e muito, nesses cinco anos. O boom do streaming e a concomitante aposta no formato série terá contribuído, e muito, para esse crescimento. Este crescimento não ajudou muito as directoras de fotografia (8% de todos os profissionais da área no activo) ou as compositoras (6%), “fortemente sub-representadas” no léxico do OEA, desde 2015 até 2020.

Nos EUA, o grande mercado ocidental mais comparado com o europeu, na temporada de 2019-20 34% dos mais de 4300 episódios de séries foram realizados por mulheres, segundo a Guilda dos Realizadores dos EUA, e 45,3% deles foram escritos por mulheres guionistas em 2020, de acordo com a Guilda de Argumentistas do mesmo país.

Menos créditos a solo

O relatório, que não inclui dados sobre séries de animação e que entende ficção europeia como a produzida nos países membros da União Europeia, Reino Unido, Suíça e Noruega, detalha como cada profissão se comporta quando olhada mais de perto. Fica a saber-se que as realizadoras tendem a trabalhar mais em regime de colaboração do que os homens, mais facilmente com honrarias de trabalho a solo, por exemplo, ou que em Portugal o peso das mulheres em equipas com mais realizadores está abaixo da média europeia (as mulheres são 5% quando a média ultrapassa os 15%).

No que toca à escrita, se as mulheres escreveram mais episódios do que os homens, são menos frequentemente as únicas autoras de um episódio; em equipas de guionistas, as mulheres estão tendencialmente em minoria. Portugal está bem acima (entre 45% e 50%) da média (entre 35% e 40%) no peso das mulheres nas equipas de guionistas, por outro lado, e o mesmo se passa quanto à produção.

O relatório analisou mais de 37 mil episódios séries e telefilmes.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários